A questão dos termos científicos formados por radicais gregos não tem tido um tratamento uniforme, e, portanto, há muitas exceções, como parece ser o caso das palavras terminadas em -ia, incluindo a diferença prosódica entre taquicardia e ambrósia.
É verdade que muitos termos cultos e científicos formados por elementos de origem grega passam pela sua adaptação ao latim, donde depois foram ou são transmitidos ao português, conforme observa M.ª Helena T. C. Ureña Prieto et al., em Do Grego e do Latim ao Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 1995, p. 11):
«Regra geral e tradicional é a de supor sempre, real ou teoricamente, os nomes [gregos] recebidos por mediação do latim e aplicar-lhes a regra da acentuação latina. Deste modo serão graves ou paroxítonos os polissílabos que tenham a penúltima sílaba longa; serão esdrúxulos ou proparoxítonos os que tenham a penúltima sílaba breve.»
Contudo, a mesma fonte assinala que «a acentuação das palavras terminadas em -ia em português é oscilante» (ibidem, p. 37), fundamentando-se nos critérios formulados em 1940, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (mantém-se a ortografia do original consultado):
«A prosódia dos sufixos de origem grega é regulada, como convém, pela quantidade etimológica. Recebe, porém, tratamento especial o sufixo -ia, cuja prosódia depende das várias condições históricas do seu uso, o que faz que em muitos casos seja tónico e noutros seja átono. Temos, por exemplo:
a) com acentuação no sufixo -ia:
1.º: palavras que designam moléstia ou defeito físico: acardia, afasia, amnesia, anemia, etc.
2.º: palavras que exprimem o estado ou a natureza de qualquer ser: apatia, monaldefia, etc.
3.º: palavras que designam uma acção: flebopexia, flebotomia, etc.
4.º: nomes de ciências, artes, doutrinas, em que entram os elementos -grafia, -logia, -sofia, -tecnia, etc.: agronomia, filologia, geografia, siderotecnia, teosofia, etc.
b) sem acentuação no sufixo -ia:
1.º: palavras que designam animais, plantas ou pedras: actínia, artimísia, astéria, etc.
2.º: palavras que designam figuras de retórica (é excepção alegoria): antonomásia, metonímia, etc.
3.º: palavras em que o sufixo -ia faz parte das terminações que o uso consagrou como esdrúxulas: prosódia, rapsódia; comédia, tragédia; antroponímia, toponímia; albuminúria, azotúria; etc.»
As formas mencionadas nesta passagem são válidas na sua maioria, mas impôs-se o uso de amnésia, cujo formante -mnésia o Dicionário Houaiss explica do seguinte modo: «[...] a tônica em -mnésia deve ter sofrido a influência da tônica em -mnese, em especial no termo médico anamnese, embora haja ocorrências em -mnesia.»
Em todo o caso, em relação ao contraste entre taquicardia e ambrósia, a diferença parece convergir com os critérios acima enunciados. Taquicardia alinha, portanto, com as palavras que «designam moléstia ou defeito físico» [alínea a), 1.º], enquanto ambrósia se inscreve entre as palavras cujas «terminações «o uso consagrou como esdrúxulas» [alínea b), 3.º].