O facto de um modificador poder ser retirado da frase tem a ver com as relações mais ténues que mantém com o grupo verbal ou com a frase. Por exemplo, um modificador do grupo verbal não é pedido pelo verbo (não é seu argumento) e, por essa razão, pode ser omitido sem prejudicar a gramaticalidade da frase:
(1) «O João comeu um bolo ontem.»
(1a) «O João comeu um bolo.»
No entanto, se considerarmos a frase no seu contexto, é verdade que a informação temporal veiculada pelo modificador ontem pode ser semanticamente importante para a compreensão do texto. Isto significa que, do ponto de vista sintático, o modificador pode ser omitido, mas, do ponto de vista semântico, não. Serão situações como esta que justificam a presença do advérbio geralmente na afirmação constante do Dicionário Terminológico.
A distinção entre os modificadores do grupo verbal e os modificadores de frase pode fazer-se pela aplicação de dois testes de natureza sintática:
(i) construção de foco (construção clivada):
O modificador de grupo verbal admite ser integrado numa construção de focalização (clivada), como se vê em (2/2a), ao passo que o modificador da frase não o permite (3/3a):
(2) «O João leu o livro atentamente.» - (2a) «Foi atentamente que o João leu o livro?»
(3) «Felizmente, o João leu o livro.» - (3a) «*Foi felizmente que o João leu o livro?»
(ii) construção pergunta-resposta:
O modificador do grupo verbal pode constituir resposta a uma pergunta (2b), enquanto o modificador de frase não o permite (3b):
(2b) «Como leu o João o livro?» - «Atentamente.»
(3b) «Porque / Como leu o João o livro?» - «*Felizmente.»
Disponha sempre!
*assinala a inaceitabilidade da frase.