Em português, dever-se-á sempre deixar espaço depois do travessão (ou do travessão duplo). No caso de este se encontrar no interior de um enunciado, dever-se-á deixar sempre um espaço antes e outro depois.
Ex.:
«— Ele não quer responder.
— Mas por quê?»;
«— Acho — e retomou o discurso — que já assustámos demais o nosso jovem amigo.»
(Lindley Cintra, Celso Cunha, Nova Gramática do Português, pp. 662-663).
De facto, tem razão o caro consulente quando afirma que, na língua inglesa, ao contrário do que, genericamente, sucede com o português, é comum não deixar qualquer tipo de espaço antes ou depois da colocação de um travessão. Veja-se, por exemplo, este excerto retirado do clássico de Emily Brontë, Wuthering Heights (O Monte dos Vendavais), edição de 1994, da Penguin Classics:
«when he saw my horseʼs breast fairly pushing de barrier he did put out his hand to unchain it, and then sullenly preceded me up the causeway, calling,as we entered the court—"Joseph, take Mr Lockwoodʼs horse; and bring up some wine."»
Porém, esta não parece ser uma regra rígida, pois nem sempre assim é, sendo que, mesmo noutras edições desta mesma obra, são deixados espaços antes e depois da utilização de travessões.
Leia-se, por exemplo, os seguintes excertos de Lady Windermereʼs Fan (O Leque de Lady Windermere), de Oscar Wilde, edição de 2005 da editora Axiom Publishing: «Yes — who has called?»; «Show him up — and Iʼm at home to any one who calls.»; «Do you think then — of course I am only putting an imaginary instance — do you think that in a case of a young married couple [...].»
Se nos cingirmos, contudo, aos textos publicados em língua inglesa nos Estados Unidos, já parece ser muito mais difícil encontrar travessões envoltos em espaços. Repare-se, por exemplo, neste excerto retirado de The Plot against America (A Conspiração contra a América), edição de 2004, Houghton Mifflin Harcourt, de Philip Roth:
«My brother, Sandy, a seventh-grader with a prodigyʼs talent for drawing, was twelve, and I, a third-grader a term ahead of himself--and an embryonic stamp collector inspired like millions of kids by the countryʼs foremost philatelist, President Roosevelt--was seven.»
Confirmo, portanto, que o equivalente ao travessão português será, efetivamente, em bom rigor, o referido em dash. Sendo que o vocábulo dash já poderá significar, por si só, «travessão», o acrescento da palavra em (letra M, em português) especifica o tamanho que tal sinal gráfico deverá ter, isto é, a largura equivalente a um M maiúsculo, ou a dois N maiúsculos. Veja-se que, no excerto do livro de Philip Roth transcrito, o travessão é composto por dois traços, correspondente, cada um, sensivelmente, à largura de um N maiúsculo. É, aliás, comum, em textos de proveniência americana, sobretudo, representar desta forma o travessão: com dois en dashes (sendo que en significa, em português N).
Ora, o en dash (travessão de largura equivalente a um N maiúsculo) corresponderá, na língua portuguesa, ao traço de ligação (também chamado de meia-risca, meio-traço ou traço médio), que serve essencialmente, como bem refere o estimado consulente, para ligar elementos em série, como números (1–10), letras (A–Z), ou outros, indicando ausência de intervalos na enumeração. Este sinal gráfico deverá também surgir, na língua portuguesa, tal como acontece com o hífen, sem espaços envolventes.
Finalmente, o sinal matemático de subtração corresponderá sensivelmente, em termos de medidas, ao traço de ligação/en dash.
Resumindo, que já vai longa a resposta, podemos, portanto, ter:
1) O hífen (Alt + 0045): sem espaços em branco (-);
2) O travessão (ou travessão duplo)/em-dash(1) (Alt + 0151): em português, envolto em espaços em branco (—);
3) O traço de ligação/en dash (Alt + 150): sem espaços em branco (–);
4) O sinal matemático de subtração: sem espaços em branco (–).
(1) Existem, igualmente, o mm-dash e o mmm-dash — velha denominação tipográfica, que se refere a um travessão da largura de uma, duas ou três letras M, cada um com seu emprego distinto. Nesta edição de 1914, de Wuthering Heights, por exemplo, é possível encontrar várias utilizações destes sinais gráficos.
N.E. – Sobre os critérios de hifenização depois do Acordo Ortográfico de 1990, acompanhe-se a explicação do gramático brasileiro Sérgio Nogueira em registo de vídeo: