Sem outro contexto que possa auxiliar a resposta, podemos afirmar que o advérbio agora pode estar associado aos dois tipos de coesão.
Assim, por um lado, no âmbito da coesão interfrásica, sabemos que este tipo de coesão é «assegurada por processos de sequencialização que exprimem vários tipos de interdependência semântica das frase que ocorrem à superfície textual» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 91). Deste modo, uma das funções dos conectores processa-se no plano da organização textual, podendo assegurar a expressão de vários valores de nexo entre segmentos do texto. Um desses valores é o de listagem (cf. idem, ibid., pp. 94-95), que poderia ser associado ao uso do conector agora numa sequência de frases como:
(1) «Inicialmente, falei de sintaxe. Agora, falo de semântica.»
Neste uso, os conectores têm um uso idêntico ao dos conectores que tipicamente processam o valor de listagem: primeiro… segundo… terceiro.
Outro valor assegurado pelo conector agora poderá ser o de sequência temporal:
(2) «Antes usava o cabelo comprido, agora prefiro os cortes mais curtos.»
Neste uso, o conector terá um valor similar ao do conector depois (antes… depois).
Por outro lado, é possível associar a utilização do conector agora a um processo de coesão temporal, na medida em que «conexões de sequência temporal entre períodos simples, compostos ou complexos, […] são um dos processos de assegurar a coesão temporal» (id., ibid., p. 109). Este tipo de coesão fica patente em frases como:
(3) «Ontem, fui ao cinema. Agora, vou comprar bilhetes para o teatro.»
Esta sequência de frases dá informações temporais relativas à ordenação relativa das situações descritas, o que se processa por meio dos conectores, ontem e agora, associados à flexão verbal.
Acresce, ainda, que o mesmo conector, neste caso agora, pode estar ao serviço do processamento simultâneo dos dois tipos de coesão, interfrásica e temporal. Só o contexto o dirá.