1. A coesão textual não se realiza apenas através da activação de recursos explicitamente manifestados no discurso. M. A. K. Halliday e R. Hasan (Cohesion in English, 1976) inventariaram categorias de relações coesivas: a referência, a substituição, a elipse, a coesão lexical. Porém, o estudo da coesão não se esgota na inventariação dos instrumentos verbais explícitos e vai muito para além deles:
«Ora, é da experiência de cada um de nós que a continuidade semântica de um texto radica, em muitos momentos, em informações disponíveis a partir do contexto não verbal, das coordenadas da enunciação — logo, em informações implícitas, agregadas ao texto, mas não verbalizadas.» (Fonseca, Joaquim 1992 — Linguística e Texto/Discurso. Teoria, descrição, aplicação, ICALP:18)
2. A seq{#u|ü}ência textual em que estejam linearizados verbos (actividades, processos culminados ou culminações) no pretérito perfeito representa uma progressão temporal, sem que seja necessária a presença de elos/conectores temporais: um evento introduz um ponto de referência no discurso e, em relação aos eventos constantes em frases precedentes, move-o para a direita no eixo do tempo. Temos, portanto, no exemplo que o consulente apresentou, uma sequência em que vigora, pelo menos, a coesão temporal.
Ver noção de tempo anafórico no âmbito da Teoria da Representação do Discurso:
Kamp e Rohrer, 1983 — "Tense in Texts" in Rainer Bauerle et al. (eds.), Meaning, Use and Interpretation of Language: 250-269