A frase «Quão mais, melhor» é incorreta, não podendo funcionar como alternativa a «Quanto mais, melhor».
Os operadores quanto e quão podem ser usados em construções comparativas, surgindo no segundo termo de comparação. O advérbio quão é, todavia, sentido como mais literário e é usado sobretudo nas situações em que se comparam graus de propriedades distintas da mesma entidade:
(1) «Ele estuda tanto quanto pode.»
(2) «Ele é tão estudioso quão inteligente.»
Na estrutura apresentada pelo consulente, estamos perante um caso de oração proporcional1, que, segundo Bechara, é uma construção que pode ser introduzida pelos seguintes operadores: «à medida que, à proporção que, ao passo que, tanto mais... quanto mais, tanto mais... quanto menos, tanto menos... quanto mais» (Moderna Gramática Portuguesa. Nova Fronteira, p. 412). A listagem apresentada não contempla, portanto, a construção «quão mais». Acresce-se, ainda, que uma pesquisa no Corpus de Português, de Mark Davies não devolveu exemplos de usos de quão em construções proporcionais. Assim, a situação aponta para a impossibilidade da construção «*quão mais», que não poderá, portanto, substituir «quanto mais».
Refira-se também que o exemplo apresentado pelo consulente será elítico na medida em que esta construção indica tipicamente uma correlação entre duas escalas, que neste caso ficam subentendidas e que poderão, eventualmente, ser reconstruídas a partir do contexto verbal, numa situação similar a (3):
(3) «Quanto mais trabalha, melhor se sente.»
Nestas construções identificamos dois operadores comparativos, que constituem formas adverbiais: mais e melhor («mais bem»).
O operador tanto pode surgir também em construções proporcionais como (4):
(4) «Quanto mais trabalha, tanto mais conquista.»
Nestes casos, tanto não pode ser substituído por tão.
O operador comparativo de igualdade tão é utilizado em construções comparativas quando o domínio a quantificar é expresso por meio de um adjetivo (5) ou de um advérbio (6):
(5) «Ele é tão simpático quanto eficaz.»
(6) «Ele trabalhou tão eficazmente quanto a Rita.»
Identificámos, não obstante, ocorrências de «tão mais» + adjetivo, por exemplo, no já referido Corpus do Português:
(7) Que aconteceria agora, se um pouco e sempre mais adiante, na cova funda de trevas onde o pai tinha os olhos pregados, surgisse um tronco dêsses de floresta e o carro estalasse e ficasse mole e viscoso como um inseto pisado com curiosa maldade ràpida, e dele escorressem cremosos o corpo dele e do pai? Que imenso parecia, e ele tão mais pequeno, o pai tão sério e cinza e tão esquecido dele como se escrevesse ou parasse hirto e sem ver o livro e a mãe lhe dissesse baixo que brincasse em silêncio e isso fôra tão outrora.(Maria Velho da Costa, "A Velada" in O lugar Comum, 1966)
(8) « Tudo era bem diferente do que via hoje. Tudo era tão mais cheio de alegria.» (José Lins do Rego, Fogo Morto, 1943)
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1. Na tradição gramatical portuguesa, estas construções não têm uma designação própria. Na gramática de Raposo et al. São designadas «Estruturas de correlação de escalas» (cf. Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2164-2168).