O constituinte «para a mãe» desempenha a função de modificador do grupo verbal.
A questão de saber se é possível termos constituintes com a função de complemento indireto introduzidos pela preposição para é muito pertinente no campo gramatical.
De acordo com a proposta de Gonçalves e Raposo1, o complemento indireto deve ser identificado com base em critérios de natureza sintática. Estes critérios permitem concluir que só os grupos preposicionais introduzidos pela preposição a desempenham a função de complemento indireto.
Sintetizamos aqui os critérios propostos pelos autores:
(i) a maioria dos verbos que seleciona complemento indireto só admite que este seja introduzido pela preposição a:
(1) «O João desobedeceu à Maria.»
(2) «*O João desobedeceu para a Maria.»
(ii) no caso dos verbos que permitem constituintes com o valor de beneficiário introduzidos tanto pela preposição a como pela preposição para, só os constituintes introduzidos pela preposição a permitem o redobro do clítico:
(3) «Comprou flores à mãe.»
(3a) «Comprou-lhe flores a ela.»
(4) «Comprou flores para a mãe.»
(4a) «*Comprou-lhe flores para ela.»
O pronome clítico, que se redobra, identifica o mesmo indivíduo referido no constituinte com função de complemento indireto, o que se verifica nas frases (3) e (3a). Note-se que isso não acontece nas frases (4) e (4a), pois nesta última afirma-se que as flores terão sido compradas a outra pessoa que não a mãe.
(iii) o grupo preposicional introduzido por para pode ter um pronome forte como complemento, o que não acontece com o grupo preposicional introduzido por a:
(5) «Comprou flores para a mãe.» / «Comprou flores para ela.»
(6) «Comprou flores à mãe.» / «*Comprou flores a ela.»
Pelas razões expostas, concluímos que na frase apresentada pela consulente, aqui reproduzida em (4), o constituinte «para a mãe» não desempenha a função de complemento indireto, pelo que se trata de um grupo preposicional com função de modificador do grupo verbal.
Disponha sempre!
*assinala a agramaticalidade da frase ou a sua inaceitabilidade no contexto proposto.
1. A proposta aqui sintetizada é apresentada em Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1175 – 1180.