Na frase apresentada, em português europeu, o pronome é colocado depois do verbo.
A próclise do pronome, ou seja, a sua colocação antes do verbo, é condicionada por um conjunto de contextos sintáticos: a negação, a quantificação, a focalização e a ênfase.
A operação de focalização é assegurada pelos advérbios focalizadores, que são aqueles que «realçam, de forma diferentes, uma entidade ou grupo de entidades na perspetiva da sua pertença a um determinado conjunto de elementos, que pode ser recuperado através do contexto discursivo»1. Entre estes advérbios encontramos os focalizadores exclusivos (apenas, só, antes …), os focalizadores inclusivos (também, até, mesmo …) e o focalizador de modalidade talvez. Estes advérbios focalizadores, quando colocados antes do verbo, funcionam como atractores de próclise¸ levando à colocação do pronome clítico antes do verbo:
(1) «O João disse-me a verdade.»
(2) «Talvez o João me diga a verdade.»
Assim sendo, uma vez que o advérbio hoje, que integra a frase apresentada, não é focalizador (mas, antes, temporal), não cria um contexto sintático que exija a próclise, pelo que o pronome é colocado após o verbo, em posição enclítica2 3:
(3) «Hoje apetece-me comer peixe.»
Disponha sempre!
1. Raposo in Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1667.
2. No caso da variante de português do Brasil, a posição por defeito do pronome clítico é proclítico, ou seja, antes do verbo.
3. Para mais informações, consulte-se Martins in Ibidem, sbt. pp. 2238-2302 e também os Textos relacionados.