Deve haver engano por parte do consulente, porque é o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras (ABL), na sua 5.ª edição em versão impressa (datada de 2009), que regista "francoatirador", forma sem hífen. O referido encarte é que posteriormente veio corrigir essa entrada, restituindo-lhe o hífen: franco-atirador. É também com hífen que a palavra aparece atualmente na pesquisa da versão em linha do VOLP da ABL.
O lapso da versão em papel do VOLP da ABL parece ter tido consequências em Portugal: com efeito, a Porto Editora apresenta "francoatirador" como nova grafia no seu dicionário de língua portuguesa, mas o seu vocabulário ortográfico consigna a forma correta, franco-atirador. Acrescente-se que esta é também grafia fixada noutro vocabulário ortográfico, no Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa (Academia das Ciências de Lisboa). No Vocabulário Ortográfico do Português (Portal da Língua) e no Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (Instituto Internacional da Língua Portuguesa), não ocorre franco-atirador, mas regista-se franco-maçónico, que tem a mesma estrutura e, por isso, não é afetado pelo AO.
Convém também explicar por que razão se deve escrever franco-atirador, e não "francoatirador". É que, a respeito da grafia de palavras compostas formadas por adjetivo e substantivo ou adjetivo e adjetivo (a palavra em causa pode ser usada como substantivo e como adjetivo), o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa nada altera (Base XV, 1):
«Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.»*
Mantém-se, portanto, a grafia fixada quer no quadro do Acordo Ortográfico de 1945 quer no da norma que esteve em vigor no Brasil, o Formulário Ortográfico de 1943.
* As exceções enumeradas na observação não abrangem franco-atirador, porque ao elemento franco , que mantém certa autonomia morfológica, se associa o significado de «livre, independente» («[quanto a franco-,] em franco-atirador, franco-mação e franco-maçonaria trata-se do adjetivo. equivalente a 'livre, independente"», conforme esclarece o Dicionário Houaiss).