Sobre fardos, quilos e litros serem substantivos abstratos ou concretos, não há dúvida, são concretos, pois, por definição, a presença de fardos, quilos e litros no mundo real independe da existência de um ser humano, pois (1) eles existiriam mesmo que seres humanos não existissem e (2) se materializam no mundo real em forma de entidades físicas: «Pegue ali aquele fardo»; ou «Estes dois quilos aqui foram a gordura que perdi».
No que diz respeito ao complemento nominal, a tradição gramatical brasileira parece não ter se aprofundado no tema, ensejando grande dificuldade em certos casos, como o trazido à baila. Por isso, tornou-se necessário recorrer a outra fonte para uma resposta possível.
Na p. 362 da 5.ª edição da Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus et al., sugere-se que, em «Trouxe dois litros de leite» – o que certamente inclui os outros exemplos do consulente –, a expressão preposicionada funciona como complemento nominal, justamente porque a expressão quantitativa formada por «dois litros» exige um complemento preposicionado (dois litros de quê?).
É importante ressaltar que a tradição gramatical brasileira desabona complementos nominais ligados a substantivos concretos. No entanto, os gramáticos brasileiros Evanildo Bechara e Celso Pedro Luft veem diferentemente da maioria.
Por exemplo, em seu Dicionário Prático de Regência Nominal, Luft apresenta certos substantivos concretos derivados de verbos por sufixação que exigem complementos nominais («o tradutor do alemão para o português»; «todo residente em Portugal»).
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