À volta do verbo "costumizar" – também escrito "customizar" –, com o significado de «adaptar às preferências de um cliente ou utilizador», as respostas aqui disponíveis (ver Textos Relacionados na barra ao lado) não lhe são favoráveis, nelas se considerando que personalizar é forma mais correta por estar mais de acordo com a morfologia e a semântica lexical do português1. Não obstante, importa tecer algumas considerações sobre "costumizar" e "customizar":
– A versão em linha do Vocabulário Ortográfico da Porto Editora e o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa registam apenas "customizar", não tendo este verbo entrada noutros vocabulários ortográficos recentes. "Costumizar" não figura em nenhum vocabulário ortográfico.
– O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora consigna somente "customizar", enquanto o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista as duas formas: "customizar", como aportuguesamento do inglês customize; e "costumizar", palavra formada por derivação sufixal (costume + izar).
– A forma "customizar" levanta o problema de integrar sem aportuguesamento morfológico o radical inglês custom-, o qual coincide com custom, «costume, hábito» e está na base do substantivo customer, «cliente, freguês». Sendo custom cognato de costume, espera-se que um aportuguesamento adequado apresente o radical do substantivo português (costum-), e não o do substantivo inglês (custom-). Costumizar é, portanto, a forma mais correta, se o objetivo for aportuguesar customize.
– No entanto, atendendo à semântica dos seus elementos constituintes, pode argumentar-se que costumizar, que passa ao português com o significado de «adaptar (alguma coisa) às preferências de um cliente ou utilizador», é também suscetível de ser interpretado como o mesmo que «tornar costume», significado sem ligação imediata ao que é associado ao anglicismo3.
– Personalizar perfila-se, pois, como o verbo mais correto: tem tradição em português e a extensão semântica que decorre da sua nova aplicação referencial (promoção de produtos e equipamentos) não distorce grandemente o seu significado básico («tornar pessoal»).
OBS.: Esta resposta é devedora da pesquisa e de um primeiro texto da autoria da consultora Sara Mourato. Teve também em atenção os comentários críticos que o blogue Linguagista fez a essa primeira versão, como se dá conta na N.E., em baixo.
1 Numa língua próxima do português como o espanhol também há quem recomende personalizar e adaptar, verbos cognatos dos portugueses personalizar e adaptar, em alternativa a customizar, adaptação do inglês customize à língua de Cervantes (ver páginas da Fundéu BBVA). Em português, outros vocábulos podem também ser criados e empregados, por exemplo, clientizar (ver resposta sobre clientização nos Textos Relacionados), mas este verbo tem uma aceção mais alargada, também associada a um termo muito discutível, "customerização".
2 O inglês custom vem do francês antigo costume (no francês contemporâneo, coutume), «costume, hábito, prática; roupas, fato», palavra que evoluiu do latim vulgar *consuetumen, forma que corresponde, no latim clássico, a consuetudinem, acusativo de consueto, «hábito, uso, maneira, prática, familiaridade» (Online Etymology Dictionary). O português costume remonta também a consuetumen (Dicionário Houaiss).
3 Sobre o valor semântico de -izar refere o Dicionário Houaiss que este sufixo ocorre «[...] com caráter frequentativo (agonizar, arborizar, fiscalizar etc.) ou causativo (civilizar, humanizar, realizar, suavizar etc.) [...]». No caso de costumizar, supondo que não tivesse relação com o inglês customize, o valor mais saliente seria o causativo («fazer com se torne costume»). Note-se que é discutível classificar arborizar como verbo frequentativo, visto poder atribuir-se-lhe também uma leitura causativa: «arborizaram o parque» = «fizeram com que o parque tivesse árvores».
N. E. (3/11/2015) – Esta resposta, por se considerar mais completa, substitui a versão anterior corrigida em 2/11/2015, na sequência da chamada de atenção de um dos nossos consultores para um reparo crítico, publicado no blogue Linguagista, de Helder Guégués. Por lapso de uma edição mais assoberbada com outras tarefas nesse dia, não ficou assinalado nessa resposta corrigida o que se faz sempre no Ciberdúvidas (e que é um ponto de honra neste projeto, já lá vão 18 anos de existência): a devida atribuição desses e de outros contributos externos, sejam eles de que natureza forem. Desta falha nos penitenciamos, com o correspondente pedido de desculpas. Abusivas, e em desabono de quem as produziu, são, no entanto, as desconsiderações ofensivas extraídas deste incidente no referido blogue para quem trabalha, com afinco e total dedicação, neste espaço dedicado à língua portuguesa, como não há outro no universo da lusofonia, na sua natureza de serviço público consagrado à língua portuguesa, na sua diversidade. Uma perspetiva adotada, inclusive, nas ligações permanentes que recomendamos, sem qualquer discriminação ou preconceitos de seita, para outros espaços de interesse para quantos, por esse mundo fora, gostam e querem saber mais sobre o português. É o caso do blogue Linguagista.