Com efeito, trata-se de um erro de concordância, porque a frase em questão deverá ser a seguinte: «Quatro em cinco jovens estão dispostos a emigrar.»
A justificação é simples: o sujeito da frase é «quatro», o que significa que se trata de uma pluralidade, e o verbo pluraliza, bem como o adjetivo disposto, observando-se assim as regras gerais da concordância verbal e adjetival.
N. E. (19/09/2016) – Um consulente (Diogo Lourenço, que nos contactou pelo Facebook) considera que a concordância no singular está correta, porque «quatro em cinco» corresponde a 4/5 («quatro quintos») e, portanto, é menos que 1 («um»). É uma posição, no mínimo, muito discutível, porque as regras de concordância e a categoria de plural se enquadram numa perspetiva linguística, não referindo diretamente entidades matemáticas. Assim, no plano da concordância verbal, o verbo ocorre no plural, de acordo com as regras gerais, sempre que, num número fracionário, o número cardinal (o numerador) que designa o número de partes da unidade (o denominador) seja superior a um. Refira-se que não encontramos esta regra explícita nas gramáticas a que temos acesso; no entanto, para referir, por exemplo, a de Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 368), vemos que estes autores, não abordando diretamente a concordância com números fracionários, facultam exemplos – «três quintos» e «quinze avos» – que evidenciam o comportamento de quinto e avo como substantivos pluralizáveis, quando os números fracionários são verbalizados e, portanto, lidos ou escritos por extenso. Se o cardinal (três, quinze) que quantifica as partes da unidade fica associado ao plural de substantivos (quintos, avos), então é legítimo concluir que tal cardinal também desencadeia a concordância verbal: diz-se, portanto, «um quinto está disposto a emigrar», mas «quatro quintos estão dispostos a emigrar». Poderá lembrar-se, entretanto, a possibilidade de usar o verbo ser no singular com «uma expressão numérica que se considera na sua totalidade» (idem, pág. 504), o que se ilustra com uma frase como «oito anos sempre é alguma coisa». Mesmo assim, não há razão para rejeitar o plural em «quatro quintos estão dispostos a emigrar»; e ainda menos se justifica usar o singular com a construção «quatro em cinco jovens», a qual revela certa flexibilidade na sua manipulação sintática, sempre impondo a concordância no plural: «quatro em cinco jovens estão dispostos a emigrar»; «quatro jovens em cinco estão dispostos...»; «em cinco jovens, quatro estão dispostos...».