Não é uma alteração que afete gobalmente os países em que o português tem estatuto oficial. Antes parece tratar-se de uma especificidade brasileira que está há muito fixada no próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (ver também o Dicionário Houaiss).
Uma explicação para aparente incongruência entre caráter e caracteres é dada por Napoleão Mendes de Almeida, no seu Dicionário de Questões Vernáculas (2001, s.v. Caracteres), onde expõe os critérios que levam a escrever caráter no singular e caracteres no plural (manteve-se a ortografia original):
«Caracteres – Tem o acento tônico na sílaba "te": caractéres. Aparece no plural de caráter um c que, não sendo pronunciado no singular, é-o no plural.
Para explicar certos casos de prosódia, como este do c antes do t [...] e outros semelhantes, poderemos, no máximo, dizer que as pronúncias para cuja prolação persiste uma dificuldade ou exigência qualquer (no nosso caso a pronúncia do c antes do t) têm fundo erudito. A pronúncia do plural opera-se segundo a prosódia latina, sem que se apóie na pronúncia popular do singular. [...]
Quer com a significação de "tipo de imprensa", quer com a de "feitio moral", "índole", quer com mais outros significados, a palavra não tem c antes do t no singular e o traz no plural: caráter bom, caracteres distintos, caracteres tipográficos, caráter indefinido, caracteres somáticos. V. "infetar"»
Seguindo a remissão para a entrada infetar, lemos ainda acerca de caráter/caracteres (manteve-se ortografia original):
«A dúvida da grafia do c antes de outro c ou antes de t continua à mercê do capricho, pois de forma inconstante o vemos num vocábulo e o não vemos num derivado, ou não aparece no primitivo para aparecer no derivado; é o que acontece com caráter, caracterizar, notando-se freqüentemente o c também no plural do substantivo quando indicativo de tipo de imprensa: caracteres tipográficos.»
Assinale-se ainda que o Dicionário Hoauiss e o Aurélio XXI também apresentam a forma caractere, ao que parece, deduzida de caracteres, à qual o Houaiss atribui o significado de «letra do alfabeto, algarismo, sinal de pontuação ou símbolo de qualquer natureza que pode ser introduzido em um computador pelo teclado ou por outro dispositivo de entrada, assim como exibido na tela ou em outro dispositivo de saída».
Nada disto se aplica ao português europeu, porquanto o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) regista os pares caráter/carateres e carácter/caracteres, mas não adotados pela norma brasileira, na qual é de facto caráter/caracteres o par consignado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (VOLP-ABL). Também no VOP se acolhe a forma caractere, mas assinalada como brasileirismo, informação pelo VOLP-ABL.
Refira-se, por último, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, só inclui caráter/carateres e carácter/caracteres, e o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, apenas acolhe o par caráter/carateres, associando-lhe a forma carácter, acompanhada da indicação de se tratar de forma brasileira, o que não se confirma pelas razões atrás expostas.