Se considerarmos que o verso apresentado não tem elementos elididos, poderemos propor a seguinte análise sintática dos seus constituintes:
«o que sei» - sujeito
«cedo e tão tarde» - predicativo do sujeito (composto por dois constituintes coordenados)
«ainda» e «já» - modificadores
Nas orações copulativas, quando o predicativo do sujeito é um advérbio temporal, este impõe restrições sobre o sujeito. Como refere Raposo, «um predicador temporal pode ocorrer com sujeitos que denotam uma situação (cf. [O concerto foi tarde/cedo/ontem/antes/ de manhã]), mas não com sujeitos que denotam entidades concretas (cf. a impossibilidade de *o Pedro foi/está tarde / ontem, *a pedra foi/está cedo / de manhã)» (Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1596).
Assim, se considerarmos que a oração relativa «o que sei» não corresponde a uma situação com temporalidade intrínseca, o verso apresenta, com efeito, uma anomalia semântica.
Todavia, não podemos esquecer que estamos no campo da construção poética, que se caracteriza também por explorar sentidos que nascem de associações que a norma não prevê nem aceita. Nesta ótica, o verso em questão constitui um desafio à interpretação e, por isso mesmo, enriquece o poema, introduzindo-lhe densidade.
Finalmente, não poderemos desprezar a possibilidade de no verso terem sido elididos constituintes (por uma questão de ritmo, métrica). Nesta ótica, poderíamos considerar que o verso completo poderia corresponder a:
(1) «É tão cedo ainda e já tão tarde para o que sei»
Neste caso, estaríamos perante uma estrutura correta do ponto de vista semântico e sintático.