Como afirma a consulente, a oração «consertar sapatos» é uma oração subordinada substantiva completiva de tipo não finito, uma vez que o seu verbo nuclear se encontra flexionado no infinitivo. Esta oração funciona como complemento direto do verbo saber, como se observa pela possibilidade de pronominalização:
(1a) «Conheço quem saiba isto.»
(1b) «Conheço quem o saiba.»
Nas frases que incluem verbos de conhecimento (como saber, conhecer, entre outros), estes determinam que o sujeito da oração não finita é implicitamente o mesmo da oração subordinante1. Assim, numa frase como (2), o sujeito implícito de consertar é «O João»:
(2) «O João sabe consertar sapatos.»
Nos estudos gramaticais contemporâneos, o sujeito que não tem realização fonética recebe a designação de sujeito nulo2.
Na frase apresentada na questão, a estrutura em análise integra uma oração subordinada substantiva relativa introduzida pelo pronome relativo quem. Este pronome é o sujeito do verbo saber, que é subordinante da completiva não finita. Pelas razões expostas atrás, quem é o sujeito implícito de consertar. Uma vez que o pronome relativo tem um valor indefinido que pode corresponder a «alguém», este mesmo valor é associado ao verbo da subordinada: «alguém conserta sapatos».
1. Cf. Raposo, E. B. P. et al., Gramática do Português. pp. 1942-1943: nesta secção da gramática, é apresentado um ponto que se dedica ao estudo dos verbos que determinam o controlo pelo sujeito da oração subordinante. Entre estes encontram-se alguns verbos de crença e conhecimento (pensar, saber), declarativos (dizer, afirmar), volitivos (querer, desejar), entre outros.
2. Para um aprofundamento desta questão, consulte-se, por exemplo, Raposo, E. B. P. et al., Gramática do Português. pp. 2309 - 2335.