O conceito de relativas livres, ou relativas sem antecedente, não tem sido muito trabalhado no âmbito da gramática tradicional. Evanildo Bechara, porém, na Moderna Gramática Portuguesa, aborda o tema, referindo que ocorre a substantivação da oração adjectiva quando ocorre o apagamento do antecedente do pronome relativo. Dá como exemplos, entre outros (p. 469): (1) Não conheço quem chegou. (2) Não sabemos qual comprou. (3) Não sabemos onde comprou. Frases como (1) (2) e (3) são relativas sem antecedente, e todas as relativas sem antecedente se incluem no grupo das subordinadas substantivas.Ainda acerca das subordinadas substantivas, Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, referem sete subtipos, dos quais aponto apenas dois (pp. 596 e 597):«As orações SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS […] segundo o seu valor sintáctico podem ser:[…] 3 OBJECTIVAS INDIRECTAS, quando exercem a função de objecto indirecto: Não me esqueço /de que estavas doente/ quando ele nasceu. […]7 AGENTES DA PASSIVA, quando exercem a função de agente da passiva: As ordens são dadas /por quem pode. Repare que, ainda que sejam subordinadas substantivas, são introduzidas por uma preposição. Por outro lado, em 7, temos o pronome relativo quem, cujo antecedente não conseguimos identificar. Trata-se de uma frase subordinada substantiva constituída por uma relativa livre ou sem antecedente, apesar de ser introduzida por uma preposição. No exemplo que cita, a frase subordinada é introduzida por um advérbio relativo ou interrogativo que introduz sempre uma frase substantiva, podendo ser complemento directo (como em «Pergunto onde vais») ou modificador (como em «Durmo bem onde há silêncio»). Em qualquer dos casos, do ponto de vista semântico está implícito o valor locativo. As definições simplistas com que, muitas vezes, «arrumamos o sótão» são excelentes para nos ajudar a sistematizar os temas, mas nunca nos podemos esquecer de que, a par das situações mais prototípicas, ou comuns, há sempre um conjunto de outras menos vulgares, mas que não podemos ignorar.