Não é clara a origem do vocábulo briol, pelo menos quando usado na aceção em causa.
A forma briol tem três significados que, entre si, pouca afinidade conceptual parecem ter (fonte: briol, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa):
«1. [Marinha] Cabo de ferrar as velas.
2. [Portugal, Informal] Temperatura baixa. = FRIO
3. [Portugal, Informal] Vinho ordinário.»
Outros dicionários não se afastam substancialmente destas definições. A aceção 1 é o sentido que a forma tem como termo náutico. Já as aceções 2 e 3 ou relevam de usos da gíria, o que permite ver as aceções 2 e 3 como extensões metafóricas ou metonímicas da aceção 1, ou constituem casos de homonímia, isto é, pode tratar-se de palavras diferentes, com briol 2 e briol 3 eventualmente nada tendo que ver etimologicamente com briol 1.
Entre as fontes consultadas em português, o Dicionário Houaiss oferece mais informação sobre o étimo de briol 1, retomando a proposta que Joan Coromines e José Antonio Pascual registaram no seu Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico:
«francês antigo braiuel (1155) hoje breuil (1643) 'idem', através do espanhol briol (final do século XVI), ligado ao latim brāca, ae 'braga' [...].»
Em espanhol e catalão, os dicionários só registam briol como denotação de um tipo de cabo. Em galego, pode também designar, por um lado, um balde que serve de medida na venda de polvo ou como meio para apanhar água (numa embarcação) e, por outro, uma rede de pesca montada num aro, a que se chama tradicionalmente xalamar, xalavar ou enxalavar em português (cf. xalavar no dicionário Priberam e Dicionário Houaiss). A Revista Lusitana, publicada entre 1887 e 1943, mostra que no português popular – em Lisboa ou noutras regiões – das primeiras décadas do século XX se empregava briol como sinónimo vulgar de vinho; regista-se também aí a expressão «puxar pelo briol» com o significado de «trabalhar afincadamente».
Todos estes dados não conseguem esclarecer a origem de briol = «frio», mas pode aventar-se a hipótese de a noção de «vinho», por evocar as noções de euforia e energia, possa ter que ver com transferência metonímica – isto é, emprega-se uma palavra em lugar de outra porque designam realidades que andam associadas no mundo extralinguístico: bebia-se vinho para «puxar o briol», isto é, para animar, o que poderá ter ocasionado a identificação de vinho com briol. Ou será que briol = «vinho» surgiu como calão que rimava com outra palavra, por exemplo, álcool? Este processo de substituição de uma palavra por outra com que rima não parece frequente na língua portuguesa, mas, no caso do inglês popular, existe o caso do cockney, que recorre a rimas e trocadilhos. O facto de briol começar por b como beber e incluir a sequência final -ol, homónimo do sufixo -ol, usado em vários termos da química aplicáveis a diferentes tipos de álcool e de óleo (cf. -ol, Dicionário Houaiss), sugere a possibilidade de um jogo de correspondências fonéticas e semânticas que relacionam este uso com processos de criação vocabular da gíria e do calão.
Já a passagem à noção de «frio» se revela ainda menos óbvia. Será porque a ingestão de bebidas alcoólicas permite até certo ponto enfrentar o frio? Será que briol poderá também ter feito alguma vez referência a bebidas espirituosas, que dão uma sensação térmica e fazem aguentar o frio? Ou porque estas bebidas, quando mais fortes, queimam, como o frio pode queimar?
Em suma, numa frase como «hoje está/faz um briol», é obscura a origem de briol = «muito frio».