O quadro pronominal da variedade brasileira da língua portuguesa (sobretudo em norma não padrão) tem mudado com o tempo.
Nas gramáticas descritivas (e não normativas) do português brasileiro, já se encontra o uso de «a gente», locução pronominal informal, como forma de 1.ª pessoa do plural, equivalente a nós.
Desse modo, quando um brasileiro usa «a gente», como em «A gente perdeu o nosso voo», a sua gramática mental decodifica «a gente» como nós, isto é, como forma pronominal de 1.ª pessoa do plural. Desse modo, visando à manutenção da uniformidade de tratamento, o pronome possessivo usado no contexto frasal acompanha a mesma pessoa do discurso, de modo que se usa «a gente/nós» e nosso na mesma frase.
O curioso é que o brasileiro letrado sabe que «A gente perdemos» é uma construção linguística socialmente estigmatizada, de modo que usa «A gente perdeu»: isto é, por mais que «a gente» equivalha semântica e discursivamente a nós, a concordância se dá com a forma gramatical da expressão «a gente», que é morfossintaticamente de 3ª pessoa do singular (ex.:« a gente vai», «a gente come», «a gente é», «a gente vê»).
Em tempo: fora da norma-padrão brasileira, não há erro na mistura de tratamento de formas de 3.ª pessoa gramatical, como você, com formas de 2.ª pessoa gramatical, como teu, porque ambas – apesar de pertencerem a pessoas gramaticais tradicionalmente diferentes – se referem à mesma pessoa do discurso, isto é, ao destinatário, ao receptor, ao interlocutor da mensagem.
Todas estas são peculiaridades linguísticas do português brasileiro. Para esse fim específico, recomendamos a consulta à Nova gramática do português brasileiro, de Ataliba de Castilho, ou à Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de José Carlos de Azeredo.
Sempre às ordens!