Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Luísa Cordeiro Professora Chaves, Portugal 627

Na frase «O vapor é inglês, usam-no para atravessar o Atlântico», o segmento «para atravessar o Atlântico» classifica-se como modificador do grupo verbal, ou trata-se de um complemento oblíquo?

Agradeço a vossa ajuda sempre oportuna.

José Garcia Formador Câmara de Lobos, Portugal 2K

Perguntava-vos se é possível dizer-se «no fim da tarde» ou é forçoso que se diga «ao fim da tarde»?

«No fim da tarde, sente-se um alívio.»

Obrigado.

Gregório Mendes Pesquisador Portugal 564

Qual a significação da palavra aceiro na designação de ruas?

Na Margem Sul [na região de Lisboa], já encontrei exemplos do referido uso da palavra: veja-se «Aceiro Francisco Silvestre», nos arredores de Pinhal Novo. Quer dizer que houve lá uma clareira?

Obrigado.

Lucas Martins Estudante do ensino médio Ilhéus, Brasil 913

Às vezes, quando eu estou lendo algum livro, deparo-me com vários pontos finais no mesmo parágrafo do texto.

Eu fiquei curioso sobre isso, então decidi realizar algumas pesquisas na internet. Pelo que eu encontrei, parece que isso seria um «ponto continuativo», mas não compreendi perfeitamente para que serve e como utilizá-lo. Além disso, quando vou redigir os meus pensamentos, fico em dúvida se devo trocá-lo pela vírgula ou não, isso sempre acontece.

Minhas dúvidas são estas: eu gostaria de saber quando devo usar o ponto continuativo e também como saber se devo usá-lo em vez da vírgula em determinadas situações? Se possível, use alguns exemplos de uso para clarificar a minha questão. Isso pode me ajudar a entender melhor.

Obrigado pela atenção.

Sávio Christi Ilustrador, quadrinista, escritor, pintor, letrista e poeta Vitória (Espírito Santo) , Brasil 400

Quando e por que a palavra escritor passou a designar apenas quem escreve (produz) livros?

Pergunto isso, pois, justamente, os seguintes autores de textos não são comumente designados de escritores: quadrinista/banda desenhista (de histórias em quadrinhos/bandas desenhadas), piadista (de piadas), charadista (de charadas), citador (de citações) e letrista (de letras musicais)!

Obrigado.

 

Geobson Freitas Silveira Trabalhador público Bela Cruz, Brasil 878

Comumente, ouço construções do tipo «fiz de tudo pra te ver, só que não deu tempo». Obviamente, vemos que tal locução substitui a conjunção porém ou outra qualquer adversativa.

Assim, gostaria, por gentileza, de saber se algum gramático já incluiu referida expressão em lista de conjunções?

Geobson Freitas Silveira Trabalhador Público Bela Cruz, Brasil 372

Volta e meia, me deparo com expressões construídas com a preposição com seguida de verbo no gerúndio (principalmente) mas também no particípio, contudo não vejo referência em nenhuma gramática sobre a" legalidade" de tais sob a ótica da gramática normativa.

Assim, diante de tal constatação, gostaria, por gentileza, de um parecer do site sobre a licitude de tais construções e possíveis valores semânticos a elas associados. Desde já agradeço pela compreensão e apoio de sempre!

Exs. «(...) Minha mãe não queria revelar nada, mas , com você olhando assim pra mim , só me resta confessar tudo (...) e com a loja já aberta , o letreiro caiu na calçada (...) Naquele fim de tarde, com o sol querendo se pôr, ela me apareceu . Com as lágrimas correndo em seu rosto , contou-me todo seu sofrimento.»

Roberto Junqueira Desempregado São Paulo, Brasil 823

Antes de qualquer coisa, quero aqui expressar meus agradecimentos aos responsáveis pelo sítio, bem como aos seus colaboradores, pois muitas vezes foi somente aqui que consegui obter esclarecimentos para várias dúvidas acerca do nosso querido português. 

A pergunta é em relação ao uso da conjunção pois em início de frase, que em minha vasta pesquisa, inclusive aqui neste sítio, trouxe-me respostas que afirmam não ser possível tal uso. Contudo, transcrevo aqui dois exemplos de Machado de Assis, dentre muitos que encontrei na obra deste autor, os quais atestam esse tipo de uso:

Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, capítulo 15:

«Primeira comoção da minha juventude, que doce que me foste! Tal devia ser, na criação bíblica, o efeito do primeiro sol. Imagina tu esse efeito do primeiro sol, a bater de chapa na face de um mundo em flor. Pois foi a mesma coisa, leitor amigo, e se alguma vez contaste dezoito anos, deves lembrar te que foi assim mesmo.»

Quincas Borba, capítulo 6:

«– Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível, — ou, para usar a linguagem do grande Camões: Uma verdade que nas coisas anda, Que mora no visíbil e invisíbil. Pois essa substância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é Humanitas. Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo?»

[O Dicionário Houaiss regista o uso de pois com o valor adversativo: «1.3 conj.advrs. introduzindo o segmento que denota basicamente uma oposição ou restrição ao que já foi dito; mas, porém, no entanto ‹– Você está tranquilo? P. eu estou na maior ansiedade› ‹afirmava que a tudo se afeiçoara, p. qual o motivo da partida antecipada?›»]

[Contudo], nos dois exemplos de Machado que transcrevi, o pois em ambos os começos de frase não poderiam, de maneira alguma, ser trocados por mas [...], visto que se fosse feita a alteração, as frases deixariam de fazer sentido no contexto em que estão inseridas.

Se o pois no começo de frase funciona como conjunção coordenativa explicativa ou subordinativa causal, ou de alguma outra forma, não saberia dizer com certeza [...].

Transcrevo aqui mais exemplos deste tipo de uso do pois, de dois escritores acima de qualquer dúvida, para corroborar minha "tese":

Prefácio de Sagarana, escrito por Paulo Rónai em 1946.

«As nove peças que formam o volume Sagarana continuam a grande tradição da arte de narrar. O gênero peculiar do autor é, aliás, a novela, e não o conto. A maioria das narrativas reunidas no livro são novelas, menos por sua extensão relativamente grande do que pela existência, em cada uma delas, de vários episódios – ou “subistórias”, na expressão do escritor –, aliás sempre bem concatenados e que se sucedem em ascensão gradativa. O gênero, em suas mãos, alcança flexibilidade notável, modifica-se conforme o assunto, adapta-se às exigências do enredo. Pois esta maleabilidade é justamente uma das características da novela moderna.»

Entendo que a conjunção em destaque poderia ser substituída pela conjunção porque ou «visto que», porém, certamente, não cabe a substituição por mas [...].

Livro Sagarana, autor Guimarães Rosa, novela “Duelo”:

«– Você conhece o Turíbio Todo, o seleiro, aquele meio papudo?... Pois é um... (Aqui, supostas condições de bastardia e desairosas referências à genitora.)

Apesar do uso da reticência, como o pois vem depois de ponto de interrogação, necessariamente está começando uma frase e, novamente, não caberia a substituição por mas [...].

Livro Sagarana, novela “Minha Gente”:

«– Que é que você está olhando, José?

É o rastro, seu doutor... Estou vendo o sinal de passagem de um boi arribado. A estrada-mestra corta aqui perto, aí mais adiante. Deve de ter passado uma boiada. O boi fujão espirrou, e os vaqueiros decerto não deram fé... Vigia: aqui ele entrou no cerrado... Veio de carreira... Olha só: ali ele trotou mais devagar...

– Mas, como é que você pode saber isso tudo, José? – indagou Santana, surpreso.

– Olha ali: o senhor não está vendo o lugarzinho da pata do bicho? Pois é rastro de boi de arribada. Falta a marca da ponta. Boi viajado gasta a quina do casco... Eles vêm de muito longe, vêm pisando pedra, pau, chão duro e tudo... Ficam com a frente da unha roída... É diferente do pisado das reses descansadas que tem por aqui...

Acima, novamente, não poderíamos fazer a substituição [por mas]?

Fernanda Maria Bispo da Silva Professora Abrantes, Portugal 807

Como ordeno alfabeticamente as palavras avó e avô?

Cristiano Giuntella Estudante Ravena, Italia 544

Gosto muito do Rúben Amorim e vejo todas as conferências de imprensa dele.

Tenho uma dúvida sobre uma frase que ele disse hoje, ou seja (minuto 10:32, Youtube):

«O contexto é completamente diferente. Quando jogámos aqui, acho que tínhamos os mesmos pontos ou, se o Porto ganhasse, apanhava-nos na classificação.»

Tendo em conta que foi um evento relativo ao passado e hoje não poderia acontecer, não deveria ter dito: «Se o Porto tivesse ganhado, ter-nos-ia apanhado/tinha-nos apanhado na classificação»?

Obrigado.