No Brasil, todos os gramáticos normativos tradicionais da segunda metade do século XX (Rocha Lima, Evanildo Bechara, Domingos P. Cegalla, Celso Cunha) registram, sem desabonar, a possibilidade de o pronome oblíquo átono vir proclítico ao verbo principal («vou te ajudar», «estou lhe avisando», «tinham nos convidado»), pois esta colocação faz parte da sintaxe dos clíticos no português brasileiro, inclusive em norma culta.
Em consonância com a abordagem dos quatro gramáticos já citados, importa acrescentar ainda a lição de Celso Pedro Luft em sua gramática (2002 [1976]: 40), que finaliza a questão do pronome proclítico ao verbo principal: «Não faz nenhum sentido Gramáticas brasileiras condenarem a colocação brasileira dos pronomes: é como a Gramática de Portugal condenar colocações lusitanas... À Gramática cabe registrar — e não condenar — usos de linguagem.»
Também se pode conferir o mesmo na Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (2008), de José Carlos de Azeredo, e em A Gramática para Concursos Públicos (2022), de Fernando Pestana. Há outras referências de gramáticos escolares que sustentam a mesma lição, como Ernani Terra, Pasquale Cipro Neto, Ulisses Infante, Luiz A. Sacconi, etc.
Portanto, já está mais do que consagrado na norma-padrão do português brasileiro contemporâneo o pronome "solto" entre os verbos duma locução verbal.
Para finalizar a resposta, trata-se de caso facultativo de colocação os outros exemplos apresentados pelo consulente, ou seja: «ele acabou por cansar-se» ou «ele acabou por se cansar»; «ela teve de esforçar-se» ou «ela teve de se esforçar». Todas essas formas são variantes cultas, próprias da norma-padrão do português brasileiro, portanto não há razão para condená-las.
É preciso compreender que a norma culta sofre mudanças, o que é natural. Sendo assim, precisamos estar atentos aos estudos linguísticos que não pararam no tempo, a fim de normatizar os usos já consagrados.
Sempre às ordens!