DÚVIDAS

«O que não lhe falta são amigos», de novo
Quero remontar ao ano de 2012, quando foi respondida a dúvida de Daniel Dimas Pelição, em 12 de março. A questão tratava especificamente de predicativo do sujeito, mas, ao examinar a nota da consultora Eunice Marta, ao final da resposta, ficou-me uma dúvida quanto à concordância verbal e a classificação sintática de sujeito/predicado, quando se inverte a posição dos termos na frase. Se não, vejamos: «Amigos é o que não lhe falta» – sujeito: «amigos»; verbo no singular. «O que não lhe falta são amigos» – sujeito (?): «o que não lhe falta»; verbo no plural. Pergunto: alterando-se a ordem dos termos, alteram-se-lhes as funções sintáticas, ou seja, o que era sujeito torna-se predicativo, e vice-versa? E assim também a concordância verbal? Obrigado.
Ordem de constituintes na frase e vírgulas
Eu vejo que na língua italiana há uma liberdade na colocação dos termos nas orações. Parece que o português também concede está possibilidade, mas eu preciso ter certeza disso. Sabe-se que, quando se usam orações do tipo de «O homem matou o dragão», «o homem» cumpre a função de sujeito, e «o dragão», a de objeto. Mas, se se mantiver a mesma estrutura da oração e se também se puser uma vírgula após «o homem», «o homem» cumpriria a função de objeto, e «o dragão», a de sujeito. Até agora vimos a estrutura SVO [sujeito-verbo-objeto] e OVS [objeto-verbo-sujeito], respectivamente. Aí vêm as perguntas: 1.ª Seria possível uma estrutura do tipo VSO [verbo-sujeito-objeto] e VOS [verbo-objeto-sujeito] como, respectivamente, «Matou o homem, o dragão» e «Matou, o dragão, o homem»? (Sem ambas as orações possuírem a retomada do objeto pleonástico) 2.ª Também gostaria de saber se é possível as estruturas SOV [verbo-objeto-sujeito] e OSV [objeto-sujeito-verbo] como se seguem, respectivamente: «O homem, o dragão, matou» e «O dragão, o homem matou»? (Ainda que ambas não sejam retomadas pelo objeto direto pleonástico) 3.ª Gostaria de saber se as vírgulas estão bem empregadas, de tal modo que nos exemplos se justifique o que é sujeito, verbo e objeto? Desde já, meus agradecimentos.
O complemento do nome memória
A frase em questão é: «Memórias de quem se emociona porque sabe o que é sem ela viver.» A oração «(de) quem se emociona» desempenha a função de complemento do nome pela ligação estabelecida com o nome/grupo nominal «memórias». A minha questão prende-se com a classificação da oração. Sendo introduzida pelo pronome relativo (sem antecedente) quem deveria ser classificada como substantiva relativa; contudo, atendendo à função sintática que desempenha, deveria ser classificada como substantiva completiva uma vez que as substantivas relativas não desempenham, até onde sei, essa função sintática? E como podemos justificá-lo? Obrigado.
A construção «igual eu»
No Brasil é muito comum dizer «igual eu» no sentido de «como eu» ou «como a mim». E também é muito comum o uso da figura de estilo elipse. Como exemplo, o emprego destes hábitos em uma frase seria: «O João fala errado igual eu falo.» → «O João fala errado igual eu.» Gostaria de saber se na variante do português de Portugal é incorreto este uso e, se sim, qual a forma correta de serem ditas frases como estas? – O João fala errado igual eu. (O João fala errado igual eu falo.)  – Ele pensa igual eu. (Ele pensa como eu.) Obrigado.
O uso de ele como complemento direto (dialetal)
Primeiramente gostaria de cumprimentá-los pela excelente prestação de serviços com que somos brindados pelo Ciberdúvidas! No português brasileiro, a oposição pronome reto X pronome oblíquo átono não é levada a sério na fala espontânea, ficando restrita à língua escrita formal. Assim, são comuns frases como «eu conheço ele», «eu encontrei ela», «eu vi elas», etc. O único caso que se obedece é a oposição eu e me e, mesmo assim, entre pessoas de muito baixa escolaridade, pode-se ouvir um «ele viu eu» ou, ainda pior, «ela me viu eu». [...] Eu gostaria de saber, afinal, se em Portugal, na fala espontânea, podem-se encontrar construções com o pronome reto empregado em vez do oblíquo átono. PS.: Não há problemas para o brasileiro, mesmo de pouca instrução, em relação às formas tônicas.
Pronomes átonos: «Passeiam... a te buscar-te a ti» (Vinicius de Morais)
Assim é a primeira estrofe do poema "O Mergulhador", do poeta brasileiro Vinicius de Moraes: «Como, dentro do mar, libérrimos, os polvosNo líquido luar tateiam a coisa a virAssim, dentro do ar, meus lentos dedos loucosPasseiam no teu corpo a te buscar-te a ti.» Para além do efeito poético que a prodigalidade dos pronomes oblíquos proporciona, que relações gramaticais poderiam ser identificadas nesse emaranhado deles? Já me deparei com pronomes oblíquos tônicos sucedidos por átonos, mas sempre atribuí a um pleonasmo são. Em tais casos, porém, não me oriento bem.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa