Em português, ao contrário do que acontece noutras línguas, não há necessidade de explicitar o sujeito em todas as frases ou orações. Tal acontece porque o português é «uma língua de sujeito nulo, ou seja, uma língua na qual um sujeito pronominal pré-verbal não tem necessariamente realização fonética»1.
Assim, as frases abaixo são perfeitamente gramaticais em português:
(1) «O João comprou um livro e [-] começou a lê-lo imediatamente porque [-] gosta imenso deste autor que [-] conheceu numa feira do livro. E foi assim que, no próprio dia, o [-] leu na íntegra.»
Como se pode observar, o símbolo [-] indica os locais da frase onde poderia surgir explicitamente um sujeito. Tal não é, todavia, necessário porque este fica subentendido, sendo recuperado por uma rede de ligação entre os segmentos da frase que permite apontar para o referente inicial («o João») e tomá-lo como o sujeito de todos os verbos presentes nas frases. Este processo recebe o nome de coesão gramatical referencial.
Este funcionamento específico da língua portuguesa evita as redundâncias e permite a construção de frases menos pesadas e repetitivas. Por essa razão, em muitas situações, é mesmo fortemente aconselhável que se recorra ao sujeito nulo na construção frásica.
Disponha sempre!
1. Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 356, caixa [7].