DÚVIDAS

Upcycling = «reutilização criativa»
Começa a surgir, cada vez mais, o verbo to upcycle (e os deverbais upcycling e upcycled) que, segundo o Cambridge Advanced Learner's Dictionary & Thesaurus (© Cambridge University Press), significa «to make new furniture, objects, etc. out of old or used things or waste material» (sendo principalmente este último traço, a reutilização de "resíduos/subprodutos" para algo artístico, aquilo que diferencia este conceito do de reciclar). Este neologismo é traduzido, em espanhol, como suprarreciclar (e, respetivamente, suprarreciclaje e suprarreciclado). Em português, também poderia ser adequada a tradução de to upcycle/upcycling/upcycled como “suprarreciclar”/“suprarreciclagem”/“suprarreciclado”, respetivamente? Agradeço, desde já, a vossa resposta.
O verbo expressar, os seus derivados e o nome célula
Em bioquímica, é muito comum a expressão em inglês «Y expressing cells» (sendo Y um exemplo), que em português é traduzida para «células que expressam Y». Esta tradução é muito limitada, pois transmite a ideia de uma condição transitória e não de uma característica das células. Por exemplo, no tempo passado teríamos de usar «as células que expressavam Y foram lavadas com…», dando ideia que era uma consequência do teste. Por outro lado, «células expressando …» também não soa natural. O mais fácil seria usar «células expressoras», estando o termo expressor em dicionários brasileiros. Porque não podemos adotar o mesmo termo? Obrigada.
O uso e o significado do galicismo plafom
Recebi uma mensagem do meu fornecedor de comunicações a dizer que esgotei o meu plafond de Internet. Não querendo entrar na discussão sobre a necessidade de usar um estrangeirismo para um conceito que tem vários equivalentes em português, a minha dúvida está em se um plafond se esgota. Sendo um plafond, literalmente, um tecto[1], a meu ver é um nível que se atinge, não um volume que se esgota. Estou certo? Muito obrigado.   [1 O consulente escreve tecto, seguindo a ortografia que esteve plenamente em vigor até 2009 em Portugal. No quadro do Acordo Ortográfico de 1990, escreve-se teto.]
O anglicismo semântico «o racional de alguma coisa»
Atualmente, utiliza-se frequentemente a palavra racional no mesmo sentido que se atribui em inglês a rationale. Ou seja, como um conjunto de razões ou argumentos que constituem a base lógica de uma ação ou convicção (exemplo: «não entendo o racional da tua decisão»). No entanto, esta utilização de racional como nome (e não como adjetivo) não parece ser legitimada por nenhum dicionário. Com efeito, racional, como nome, apenas se encontra dicionarizado no sentido de «ser pensante». Podemos admitir a utilização de racional daquela forma, ou trata-se de uma importação abusiva do Inglês?
A expressão «tudo o resto» (II)
Esta questão já foi aqui apresentada por outro consulente e a vossa resposta foi «Penso que deve dar preferência ao uso da expressão "tudo o resto"». Eu mantenho as minhas dúvidas, até porque quem respondeu não o fez com convicção ao usar o «penso que». Pois eu penso que deve ser «todo o resto», entendido como a totalidade da parte restante. Por exemplo, hoje, na capa de A Bola, lê-se que Fernando Santos fala «sobre a Liga das Nações e sobre tudo o resto». No meu ver, estes dois conceitos são contraditórios: se fala sobre tudo, não sobra resto para acrescentar ao que fala. Ela fala, com certeza sobre a Liga das Nações e sobre a totalidade da parte restante (de matérias de futebol, certamente) que vão além do assunto principal. Agradeço a vossa atenção.
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