É próprio das línguas variarem, e é próprio da sua institucionalização como veículos da administração de um país reduzir essa variação, com a elaboração da chamada norma-padrão. Os casos de monotongação1 apresentados são característicos de grande parte dos falares centro-meridionais de Portugal: sul da Beira Baixa, parte da Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve. Não há razão biológica especial para a monotongação: esta pode ser devida a uma situação histórica (um substrato, isto é, uma língua anterior à implantação do latim ou do português, que não tinha ditongos) ou à pópria deriva do sistema fonológico do português nessas regiões.
Refira-se ainda que a perda de ditongo em meu e a sua manutenção em pai não parece traduzir uma fragilidade que se generalize a todos os ditongos nos falares do Sul de Portugal. O que acontece é mais a fragilidade dos ditongos em palavras que não têm acento próprio e que se subordinam ao de outras, como sejam os pronomes átonos e muitas formas de determinantes, entre elas, a do possessivo no género masculino da 1.ª pessoa do singular, ou seja, meu: daí dizer-se, com frequência nos dialetos centro-meridionais, «o mê pai», em lugar de «o meu pai». A palavra pai conserva melhor o ditongo, pelo menos, antes de pausa, não se sujeitando à monotongação que pode ocorrer em meu: «Viste o mê pai?» (e não «viste o mê pá»).
Por último, importa dizer que os dialetos portugueses que incluem ditongos não têm propriamente uma «tendência a ditongar»; talvez seja mais adequado dizer que tendem a conservar os ditongos. Nestas variedades, que em Portugal se identificam sobretudo com os chamados dialetos setentrionais, os ditongos são resultado da evolução dos ditongos do latim (AURU > ouro) ou da deslocação de segmentos na palavra, ou seja, de metáteses (MATERIA > madeira).
Neste contexto, o português-padrão (sobretudo baseado no português de Lisboa) configura um compromisso: monotonga ou, para ler ouro como "ôro" (mas lê oiro, como "oiro", com ditongo); mas conserva o ditongo ei, diferenciando o e de i ainda mais, para ler maneira como "manâira" ou pasmaceira como "pasmaçâira".
1 Monotongação é uma «mudança fonética que consiste na redução, a um único som vocálico, dos dois elementos de um ditongo (p. ex., ouro > oro; vou > vô)» (Dicionário Houaiss).