«Borracheiro», que – via Brasil – tem o sentido generalizado de «seringueiro», no Baixo Alentejo chama-se ao trator agrícola. Mais acima, em Évora, «borrego» também quer dizer «monte de palha». Mas em Reguengos diz-se do que a esposa, à sucapa do marido, tira da despensa (azeite, trigo, etc.), para, com a venda, obter dinheiro para ela. E «fineza», em Ferreira do Alentejo, significa proeza, façanha, valentia. Já em Beja, usa-se a expressão «já agora logo amanhã», equivalente a «deixa estar», «fica para mais tarde». E, em Marvão, «mandar o bacalhau» significa o mesmo que «ter poder sobre os outros».
Muitos mais outros termos e expressões típicos do Alentejo constam deste Dicionário de Falares do Alentejo, com a coautoria do professor de Português Vítor Fernandes Barros¹ e do publicista Lourivaldo Martins Guerreiro. Organizado nos moldes de um dicionário vocabular, mas sem preocupações etimológicas, como referem os seus autores, na nota de introdução à presente 3.ª edição – a 1.ª trazia a chancela da Âncora Editora (2013) –, aumentada, inclusive, com meio milhar de provérbios e ditos populares mais usados nos «diversos falares» da maior região de Portugal.
Por exemplo: «À espervela» (à mostra, a nu), «afofar» ( achar gosto antecipado a qualquer coisa), «agora cá!» ( (não penses nisso!), «alcanchofrado» (zangado), «bichoso» (difícil de resolver),«desinsofrido» (impaciente), «escofiar» (acariciar), «esgalhada» (airosa, formosa), «patatum» (chelique), «pirata» (malandro), «recado» (repreensão), «romão-cego» ( pénis), «rola» (órgão sexual feminino), «tinório» (muito juízo) e «verdugo» (homem musculoso).
¹ Vítor Fernandes Barros é autor de mais três recolhas de regionalismos portugueses (Dicionário dos Falares de Trás-os-Montes, Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro e Dicionário de Falares das Beiras) e de uma gramática da língua portuguesa.
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