Uberização. Uberizar. Palavras novas. Sentidos em construção. Formadas a partir de uber.
Uber é uma palavra de origem alemã, que significa «acima», «sobre». Ganhou popularidade mundial com a UberTechnology Inc., uma empresa americana, criadora de um novo modelo de negócio que oferece aos consumidores a possibilidade de comprar ou de usar algo de forma diferente, recorrendo a plataformas digitais. Os transportes privados Uber são um exemplo famoso do conceito. Esta é uma forma de transporte que conta com carros particulares de motoristas que não recebem salário fixo, mas antes uma comparticipação por cada viagem que realizam.
Um novo conceito de negócio que teve tanto sucesso que a palavra foi ganhando vida própria, explorando significações derivadas da ideia inicial. Foi assim que surgiram os neologismos uberização e uberizar.
A língua diz a realidade. Se a realidade se transforma, a língua incorpora essa evolução, referindo-a através de neologismos ou do alargamento da significação de palavras já existentes. É neste contexto que a língua é espelho sociológico e veículo de ideologias. Ela revela a mudança social e a forma como a sociedade pensa e age. O aparecimento de palavras novas está sempre enquadrado num determinado momento histórico e expressa o que de novo ele traz.
O sucesso do conceito de negócios criado pela Uber tende a ser socialmente imitado, pelo que a modernização das relações laborais começou a integrar este novo modelo. O trabalhador decide quando e onde quer trabalhar, que tipo de tarefa quer realizar. A realidade tem mostrado que esta informalidade laboral tem, contudo, escravizado os colaboradores e aumentado os lucros das empresas, que não têm responsabilidades diretas sobre quem opta por estas condições laborais. Bem-vindos à uberização do trabalho, onde precariedade e tecnologia andam de mãos dadas!
Daí a exportar o conceito para as nossas vidas foi apenas um passo. Lidamos agora com a uberização da vida humana! Se antes da pandemia, já muitos eram os sinais desta nova realidade, agora eles são evidentes e ameaçam ganhar um caráter permanente. Esta é uma realidade que vai assumindo contornos gigantescos: o teletrabalho consome-nos, as aplicações controlam-nos, os dias passaram a ser todos iguais, a precariedade está à porta e a competição exige máxima produtividade.
A vida pós-pandemia é ainda uma incógnita. O novo normal será a uberização da nossa existência? O que é certo é que já todos nos sentimos uberizados. A vida que o diga!