1. A relação entre a língua e a sua norma é um processo que vive de pontos de equilíbrio atingidos depois de momentos de tensão entre os limites impostos pelos gramáticos e as tentativas de libertação ditadas pelos usos. Neste quadro, é natural que o filólogo e gramático Napoleão Mendes de Almeida tenha condenado, no século passado, o uso de locuções como «face a» ou «frente a», que, atualmente, não são rejeitadas pela norma. Também algumas locuções com o verbo fazer, como «fazer dinheiro» ou «fazer música», que já foram consideradas galicismos, são hoje usadas como corretas, mas o mesmo já não se verifica com «fazer erros». Na atualização do Consultório, identificam-se ainda algumas palavras que contribuem para a polaridade negativa de uma frase e discute-se a aceitabilidade da frase «Ao cortarem-lhe as tranças, a menina ficou triste». Para terminar, analisa-se a função sintática do adjetivo inicial num verso da poetisa portuguesa Ana Luísa Amaral.
2. No Pelourinho, alerta-se para a confusão presente numa notícia da RTP, que se referiu à síndrome de Kawasaki, estudada como uma possível manifestação do novo coronavírus em crianças, como "síndrome de Nagasaki", trocando, deste modo, o nome da doença pelo de uma das cidades onde os Estados Unidos efetuaram bombardeamentos atómicos na II Guerra Mundial.
3. A crise sanitária evoluiu, em Portugal, para uma nova fase: o país encontra-se agora em estado de calamidade. Tendo assim terminado o estado de emergência, Portugal prepara-se para o desconfinamento e para a reabertura da economia e do ensino presencial. O avanço da situação traz consigo novas palavras que passam a integrar o glossário de A covid-19 na língua, tais como acrílico, afetos, alarmismo, app, a.C. e d.C., cadeia de transmissão, confeção, funerais, índice de transmissão, medo ou tempo (de pandemia), entre outros termos que poderão ser consultadas no documento sujeito a uma permanente atualização. Ainda relativamente às palavras que se usam mais frequentemente no contexto atual, sublinhemos a palavra hostel, um anglicismo que, entretanto, entrou na língua portuguesa, que se deve pronunciar "hostél", como hotel ou motel, e não "hóstel", como se ouve na comunicação social ou como é dito pelo próprio primeiro-ministro de Portugal, António Costa.
4. A RTP continua a repor o magazine Cuidado com a Língua! No dia 5 de maio, pelas 14h30, poderá ser acompanhado o episódio dedicado ao tema da enologia (ver notícia).
5. Celebra-se na terça-feira, 5 de maio, o primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa, proclamada em 2019 pela UNESCO. As comemorações decorrerão em linha numa colaboração entre o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), a representação portuguesa na UNESCO, a ONUNews e a RTP e contarão com a participação de duas dezenas de personalidades lusófonas da política, das letras, da música e do desporto. Em entrevista ao Jornal de Letras, “O reconhecimento do português como língua global” é destacado pelo embaixador de Portugal na UNESCO António Sampaio da Nóvoa, na qual aborda a questão da projeção internacional da língua portuguesa, que, a seu ver, deveria assentar nos pilares do ensino, cultura, criação e ciência (aqui).
6. Na véspera, foi o Dia da Mãe, em Portugal. Uma data marcada, este ano, pela distância entre muitas famílias e pela procura de outras formas de transmitir afetos. O tradutor e professor universitário Marco Neves assinalou o dia com um apontamento que viaja até ao indo-europeu, em busca da origem dos lexemas utilizados para designar mãe em diferentes línguas europeias. Uma viagem pela língua para celebrar afetos.
7. Uma língua que une e que separa. Este poderia ser o subtítulo do artigo do jornalista português João Almeida Moreira, correspondente do Diário de Notícias em São Paulo. Um texto onde nos fala de diferenças fonéticas e lexicais entre o português europeu e o português do Brasil e parte em busca de uma tentativa de explicação para as dificuldades que um brasileiro sente em compreender um português (aqui transcrito com a devida vénia).
8. Como a distância continua a marcar o nosso quotidiano, deixamos como sugestão para atividades a realizar em confinamento o acompanhamento das M-Talks 4All, que são pequenas conversas diárias organizadas pelo Festival MENTAL, que contam com a participação de profissionais de várias áreas que ajudam a refletir sobre a situação que se vive atualmente, disponíveis no canal oficial do festival no Youtube.