O mau uso do pronome relativo onde em duas notícias de jornal, apontado pelo ex-diretor de Informação da agência de notícias Lusa, na sua crónica semanal no jornal português i.
Onde indica o lugar em que uma pessoa ou um objecto está, ou em que ocorre um fenómeno ou acontecimento. É uma das questões a que o jornalista deve obrigatoriamente responder numa notícia. O Expresso [de 2/0] de tentou “branquear” o comportamento dos alunos da António Arroio, que fizeram uma “espera” ao Presidente da República à porta da escola, aos berros, com cartazes em que se lia, por exemplo, a palavra “ladrão”.
Os estudantes, afirmou o semanário, seriam cerca de 20 e teriam sido secundados (liderados?) por “antigos alunos, moradores da zona e outros”. Escreveu: «Além de outros convidados, junto à porta estavam cerca de duas dezenas de alunos e um número indeterminado de pessoas, “onde” se incluíam…» Como é evidente, o jornalista deveria ter escrito «entre as quais se incluíam», «entre elas» ou coisa parecida. O “onde” é que não é aceitável. Tão inaceitável como a manipulação alegadamente sofrida pelos jovens indignados.
Do mesmo mal (má localização do “onde”) padeceu uma notícia surgida no mesmo dia no Público. O assunto era a Rússia: «Em vésperas de eleições presidenciais de domingo, “onde” Vladimir Putin será reeleito…» Um «em que» tornaria a frase aceitável. Tanto num caso como no outro, o jornalista sabia que devia haver por ali um “onde”. Só não soube dizer onde.
Texto publicado no diário português i, do dia 9 de março de 2012, na coluna do autor, O ponto do i, intitulado Onde