1. «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», «amor é um fogo que arde sem se ver», «descalça vai para a fonte», «mais do que prometia a força humana», «naquele engano da alma, ledo e cego», «ó glória de mandar, ó vã cobiça» ou «nesta apagada e vil tristeza»1 são expressões e versos de Camões frequentemente citados em textos contemporâneos, integrados já na fraseologia do português. Isto mesmo é sublinhado na peça que o portal Porto.pt dedica à abertura das comemorações do centenário de Camões na Paços do Concelho da Cidade Invicta, assinalada com a exposição de um exemplar da 1.ª edição (1572) de Os Lusíadas, que se conserva no Ateneu Comercial do Porto. A esta iniciativa junta-se outra, com curadoria do escritor Gonçalo M.Tavares, que se propõe distribuir as 1102 estrofes da epopeia a 1102 cidadãos, «com o critério de ter uma criança de sete anos a ler “As armas e os barões assinalados”, a primeira estrofe, e uma pessoa de 87 anos a terminar a leitura, em “Sem à dita de Aquiles ter enveja"» (mais informação aqui). A participação nesta leitura coletiva, cujas gravações serão depois espalhadas pela cidade (acessíveis através de códigos QR), está sujeita a inscrição através do endereço eletrónico camoes500anos@cm-porto.pt.
1 «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», «amor é um fogo que arde sem se ver» e «descalça vai para a fonte» são versos iniciais de três famosos poemas da lírica de Camões. As restantes expressões provêm de Os Lusíadas: «mais do que prometia a força humana» (canto I, est. 1); «naquele engano da alma, ledo e cego» (canto III, est. 120); «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça» (canto IV, est. 95); «[dũa austera,] apagada e vil tristeza» (canto X, est. 145). Na imagem, cartaz do filme Camões (1946), do cineasta português Leitão de Barros (1896-1967). Crédito da foto: Artbid.
2. Ainda em Portugal, uma campanha publicitária da IKEA, aludindo com ironia à Operação Influencer e, em particular, ao antigo chefe de gabinete do demissionário primeiro-ministro português, António Costa, teve grande repercussão nas redes sociais com reações e comentários ora críticos ora favoráveis quanto ao envolvimento da multinacional sueca do mobiliário e da decoração no atual período eleitoral e no correspondente debate partidário no país. Sobre a recomendada dicção do nome IKEA e, num desses cartazes, a forma errónea 75.800, com um ponto indevido em lugar do espaço – 75 800 é a escrita correta –, o apontamento do jornalista José Mário Costa no Pelourinho.
3. Se embaixatriz é tradicionalmente a forma do género feminino de embaixador, porque será que agora se usa tanto a palavra embaixadora? É que a imperador apenas corresponde imperatriz, não se aceitando "imperadora". A consultora Inês Gama apresenta uma reflexão sobre este problema na rubrica O Nosso idioma.
4. A construção comparativa «mais bem do que mal» está correta? Não deveria ser antes «melhor do que pior»? O esclarecimento desta dúvida faz parte do conjunto de sete respostas que atualizam o Consultório e que abrangem ainda as seguintes questões: a locução «em aberto» é galicismo reprovável? Qual a origem da palavra biruta? As orações condicionais exprimem uma relação de causa-efeito? O que significa a expressão «neste conspecto»? Como usar fera predicativamente? Que valor tem o pronome se na frase «ele sagrou-se campeão»?
5. Ainda a respeito de Portugal, a comunicação social continua fazer eco da preocupação gerada, no final de 2023, pelo relatório Pisa 2022, cujos resultados revelaram uma queda significativa da proficiência dos alunos em matemática e leitura (cf. Margarita Correia, "O que é o PISA e que nos traz de novo"). Vem, portanto, a propósito registar, à volta do ensino: "Dependência de ecrãs: 'Há uma espécie de normalização da embriaguez digital'" (Público, 23/01/2024); "Falar e escrever bem: uma missão difícil, mas possível!" (Observatório da Língua Portuguesa, 25/01/2024); e o dossiê Porque pioram os alunos?, uma compilação de entrevistas, reportagens e análises do jornal Público sobre o PISA 2022.
6. Sobre o termo subsidiodependente, recorrente, por exemplo, no discurso do líder do partido político português Chega, leia-se "“Subsidiodependência” entrou para o léxico político. Mas existe mesmo?" (Diário de Notícias, 24/01/2024).
7. Entre publicações escritas e audiovisuais que, na Internet, abordam temas do idioma português, saliente-se Pilha de Livros, o podcast do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves. Últimos episódios: "Tradutores, revisores e outros escritores" (24/01/2024); "O estranho caso da princesa inglesa que sabia duas línguas" (25/01/2024); e "Um mundo com uma só língua seria mais pacífico?" (26/01/2024).
8. Quanto a três dos programas que, na rádio pública de Portugal, tratam de temas da língua portuguesa:
– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 26/01/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Ana Luísa Costa, professora da Escola Superior de Educação de Setúbal, fala sobre as regras de pontuação.
– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 28/01/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 03/02/2024 às 15h30*), Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahía) apresenta o curso de Capacitação para a Elaboração de Materiais, promovido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) entre os dias 5 a 9 de fevereiro de 2024, na cidade de Dili (Timor-Leste). Inclui-se ainda um apontamento de Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas, acerca das regras de concordância.
– Mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira.
* Hora oficial de Portugal continental.