1. A pronúncia é a forma como se realiza a prosódia de uma palavra. Todavia, os falantes não pronunciam as palavras sempre da mesma forma, ficando as diferenças dependentes de fenómenos regionais, sociais, educacionais ou simplesmente de modas em vigor. O contraste entre as pronúncias de uma mesma palavra gera, por vezes, as hesitações dos falantes, que podem mesmo questionar a correção da forma como sempre pronunciaram uma dada palavra. Esta situação ocorre na questão que se coloca ao Consultório relacionada com a pronúncia de Isaac. Numa outra questão pergunta-se se a expressão «um ror de», que surge com alguma frequência, terá alguma ligação com a palavra horror? Regressando ao tema dos verbos, sabemos que as classes verbais podem ser constituídas segundo diversos critérios, sintáticos, semânticos ou morfológicos. Nesta perspetiva, a que classe pertencerá o verbo acusar, segundo a sua significação? Para concluir, uma questão de âmbito textual e discursivo sobre o tipo de coesão assegurado pelo advérbio de lugar lá.
Primeira imagem: Abraão e Isaac, de Rembrandt, 1634
2. Celebra-se hoje, dia 9 de dezembro, o Dia Nacional da Imprensa, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Imprensa. Este ano, as comemorações têm lugar em Coimbra e visam apontar caminhos a seguir pela imprensa, numa altura em que atravessa uma situação de crise e se debate com o problema das «notícias falsas» (notícia aqui). O Ciberdúvidas tem, desde sempre, dedicado uma particular atenção à imprensa, como espaço de vida da língua, de divulgação de temas de âmbito linguístico e também de erros e dúvidas. Neste domínio, as comemorações deste evento recordam-nos respostas relacionadas diretamente com os géneros da imprensa ou com vocabulário temático, sobretudo os anglicismos: «Os diferentes textos de imprensa», «Sobre a notícia», «Crónica de imprensa», «Imprensa generalista», «Imprensa escrita?», «Press release = comunicado de imprensa», «A formação e o significado do termo mediólogo», «Newsletter = «boletim informativo»», «O anglicismo newsletter = «boletim informativo»», «A tradução de newsmaker». Publicámos também um número considerável de respostas relacionadas com o termo «meios de comunicação social»: «Media e «meios de comunicação»», «Ainda à volta da palavra latina media», «O uso de "media" (=«meios de comunicação social»)», «Media e «meios de comunicação»», «Ainda à volta da palavra latina media», «/Mèdia/ e não "mídia"», ««Media», média, /mídia/ + "canasto" / canastro». Sobre este tema, recordar também o apontamento do Pelourinho «In mídia virtus» e o artigo «Populismo e fake news».
3. As bengalas linguísticas são usadas como marcadores de discurso oral, sobretudo em situações de interação linguística. Auxiliam o locutor a organizar as ideias, marcam a tomada de fala, assinalam a reorientação discursiva... Enfim, são muitas e diversificadas as funções das bengalas linguísticas. Todavia, quando são frequentes e insistentes podem tornar o discurso pesado, enfadonho e difícil de interpretar por parte do interlocutor, o que leva a que sejam consideradas por muitos um vício de linguagem que importa eliminar. Estas bengalas linguísticas estão também associadas a modas que acabam por impor o uso de determinados itens lexicais. Assim, do pá de gerações anteriores evoluiu-se para o pronto e o então e, mais recentemente, para o tipo, muito popular entre os mais jovens. É a este bordão linguístico que se dedica o texto da agência Lusa «"Tipo, ok. Tipo, não. Tipo, eu sei." Perceba o fenómeno», que aqui reproduzimos, com a devida vénia, e no qual se descreve o facto, se encontram causas e se apresentam algumas das posições distintas que gera. O recurso a determinadas bengalas linguísticas no discurso dos jovens, como tipo, foi também já assinalado no Ciberdúvidas num artigo divulgado na rubrica Na 1.ª pessoa (ver aqui).
4. O recurso, numa crónica do jornalista português João Miguel Tavares, à expressão Homo sapiens com sentido plural lançou a discórdia sobre a forma que a expressão latina deverá assumir. O que está correto: a forma Homo sapiens, para o singular e para o plural, ou a forma Homines sapientes, se o sentido é plural? Poderá acompanhar a polémica na rubrica Controvérsias (ver artigo aqui).
5. A existência de choques de culturas e a recusa de variantes do português que não a europeia são alguns dos dados resultantes de um estudo desenvolvido pela investigadora Juliana Chatti Iorio, divulgado em traços largos no Diário de Notícias (notícia aqui transcrita). A investigação em questão veio demonstrar que ainda existem preconceitos linguísticos nas universidades portuguesas, que levam a que se tenha dificuldade em aceitar como corretas outras variantes do português ou em querer conhecer as culturas dos estudantes estrangeiros. Dando como exemplo o caso dos alunos brasileiros, a investigadora afirma: «Muitas vezes, os próprios professores não aceitam a língua portuguesa falada e escrita no Brasil, discriminando mesmo o seu uso em sala de aula e não permitindo o uso de livros cuja tradução seja feita no Brasil.»
6. Nas notícias relacionadas com a língua portuguesa e com a comunicação, destaque para:
— A decisão de entregar o Prémio Camões a Chico Buarque, músico e escritor brasileiro, em Portugal, no âmbito das comemorações do 25 de abril em Lisboa, depois de o presidente brasileiro Jair Bolsonaro ter dado a entender que não iria assinar o diploma de entrega do prémio ao autor (ver notícia);
— A entrevista a Fernando Venâncio, escritor português e académico, por ocasião do lançamento da sua obra Assim nasceu uma língua, na qual defende que o português é uma língua tardia, que só se autonomizou do galego a partir do início do século XV (divulgada no jornal Público);
— A apresentação do projeto Mãos que cantam, da responsabilidade do maestro Sérgio Peixoto, que criou um coro de surdos com os alunos da Licenciatura e Mestrado em Língua Gestual Portuguesa do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica, que começou por atuar em conjunto com o Coro dessa Universidade, no dia 11 dezembro de 2019, às 18h00, na Biblioteca Palácio Galveias.