1. Em Portugal, apesar da pandemia, da grave crise ambiental e da ameaça bélica na fronteira russo-ucraniana, as atenções viram-se todas para o resultado das eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022, que deram uma inesperada maioria absoluta ao Partido Socialista (PS). Dias antes, António Costa, secretário-geral do PS e primeiro-ministro do governo cessante e do próximo que se constituirá, considerava que «hoje em dia, a maioria absoluta não é um poder absoluto, é ter condições para governar», argumentando que, com Marcelo Rebelo de Sousa, o atual Presidente da República, ninguém acreditaria numa «maioria absoluta que pisasse o risco» (Expresso, 13/01/2022). À expressão metafórica «pisar o risco» depressa se associou no comentário político a figura que vigia e previne essa veleidade, como é o caso em declarações do politólogo e ex-ministro Miguel Poiares Maduro (ver "Nasce Marcelo III, o tutor da maioria absoluta", de Ana Sá Lopes, no Público, em 01/02/2022), que vaticina ao Presidente da República Portuguesa o papel de "tutor" da nova situação política. Sobre a palavra tutor, recordem-se os registos desde o século XIII (com as variantes titor e tetor) e a etimologia latina, de tutor, oris, «guarda, defensor, protetor, curador, tutor», do verbo do latim tardio tuere, «ter debaixo da vista, defender, proteger» (cf. Dicionário Houaiss). Da mesma raiz vem o vocábulo tutela (ibidem).
Entre respostas e artigos em arquivo, sugere-se também a leitura de "A etimologia de tutor", "Tutoria e tutório", "Tutorial", "Aulas de apoio tutorial", "O plural de aluno-tutorando" e "Tutelado".
2. Entretanto, da França, chegam notícias de que 232 dias constitui o máximo de duração do resultado positivo em testes à covid-19. Na Dinamarca, impôs-se o basta! às restrições sanitárias em vigor há praticamente dois anos, com o anúncio oficial de um plano para lhes pôr termo a partir de 1 de fevereiro de 2022 – o que faz deste país o primeiro da União Europeia a ter uma iniciativa do género, logo seguido da Finlândia, mais generalizadamente. Finalmente, a Organização Mundial de Saúde lança um alerta porque o aumento de resíduos médicos produzidos e distribuídos para o combate à pandemia estão a exercer uma pressão preocupante sobre os sistemas da sua gestão, ameaçando o ambiente e a saúde humana. São, portanto, três as novas entradas (em destaque) na rubrica A covid-19 na língua.
3. Ambas introduzem orações concessivas, mas será que a conjunção embora tem a mesma semântica que a locução «mesmo que»? A pergunta faz parte da atualização do Consultório, que inclui ainda questões acerca do feminino de mestre-escola, do significado do nome essa, do verbo caminhar e da sintaxe de haver.
4. Angola afirma cada vez mais a sua personalidade linguística no seio da CPLP, como evidencia o conjunto de estudos intitulado O Português de/em Angola – Peculiaridades Linguísticas e a Diversidade no Ensino (Opção Editora), obra apresentada na Montra de Livros.
5. Na rubrica O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, uma crónica bem-humorada de autoria do escritor Miguel Esteves Cardoso e incluída no jornal Público em 29 de janeiro, a respeito do uso idiomático do demonstrativo isso.
6. Um último registo para a primeira tradução de Os Lusíadas em língua árabe, um trabalho do professor Abdeljelil Larbi (Faculdade das Ciências Humanas e Sociais da Universidade Nova de Lisboa). Mais informação, aqui.