1. Na madrugada de sexta-feira, dia 3 de maio, no Porto, grupos de homens encapuzados atacaram imigrantes, na sua maioria de nacionalidade argelina. Esta situação com contornos de uma preocupante violência traz consigo duas palavras nucleares: racismo e xenofobia, que têm sido usadas tanto para descrever a orientação de discursos conotados com a extrema-direita como fenómenos pontuais associados a maior ou menor violência física e verbal contra imigrantes. Um conjunto de acontecimentos que têm deixado um lastro de preocupação num país que habitualmente se pauta pelos brandos costumes e pela tolerância relativamente à diferença. Do ponto de vista linguístico, convém aqui estabelecer a distinção entre as duas palavras do ponto de vista da sua significação. Assim, racismo é usado para referir o «preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a grupos ou etnias diferentes, geralmente considerados inferiores».* Note-se que o lexema racismo não deve ser associado à noção de superioridade racial, uma vez que o conceito de raça não tem bases científicas. Para referir diferenças desta natureza, preferem-se os termos etnia, povo ou grupo étnico. Xenofobia, por seu turno, é uma palavra que refere a «aversão ou hostilidade a pessoas estrangeiras». Deste modo se conclui que racismo e xenofobia descrevem sentimentos de rejeição associados a realidades distintas. Em termos etimológicos, racismo forma-se pela junção do sufixo -ismo à palavra raça, ao passo que xenofobia resulta da junção dos elementos compositivos gregos xénos, que significa «estrangeiro, estranho, insólito», e phóbos, que significa «medo, pavor, temor». A este propósito, justifica-se recordar alguns dos textos relacionados com o tema disponíveis no Ciberdúvidas: «Que nos contam as palavras racismo e xenofobia?», «O âmbito do termo xenofobia», «Raça e expressões racistas», «Xenofobia linguística», «A pronúncia de racismo», «Pronúncia do x: xenofobia e sintaxe».
* Foram consultados o Dicionário Houaiss e o Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa.
2. O termo aceiro que surge na toponímia na freguesia de Pinhal Novo (concelho de Palmela) e também no concelho de Montijo é abordado do ponto de vista da sua significação ao mesmo tempo que se ensaia uma justificação para o seu uso. Esta explicação integra uma das oito novas respostas que poderão ser consultadas na atualização do Consultório, que inclui ainda as seguintes: «Processos de coesão, correferência não anafórica», «A expressão «como se fosse ontem»», «O verbo usar e o modificador do grupo verbal», «A locução conjuntiva adversativa «só que»», «Valores de pois», «Ordenar alfabeticamente avô e avó», «Oração condicional contrafactual e imperfeito do conjuntivo».
3. As frases «Maria é uma das vencedoras» e «Maria é um dos vencedores» colocam um problema de concordância. Estará uma das frases incorreta ou estas abrangem realidades extralinguísticas distintas? Este é o tema do apontamento da responsabilidade da professora Carla Marques, desenvolvido em colaboração com o programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. Um registo com a forma incorreta "fique-mo-nos" motiva o apontamento do consultor Paulo J. S. Barata para a rubrica Pelourinho, onde se explica o processo de formação e as regras gramaticais envolvidas na estrutura fiquemo-nos (esta, sim, correta).
5. O abismo entre os usos da oralidade e os da escrita envolve muitas vezes questões complexas relacionas com escolarização e letramento. O contraste entre o caso brasileiro e, por exemplo, o sueco parece exemplificar de forma clara esta tese, tal como argumento o linguista brasileiro Aldo Bizzochi no artigo que aqui partilhamos com a devida vénia.
6. Entre os eventos de interesse para a língua portuguesa, destaque para a terceira edição do Congresso Internacional Dia Mundial da Língua Portuguesa: A Sintaxe do Português no Século XXI, que pretende refletir sobre os aspetos linguísticos da língua portuguesa no contexto global, com lugar nos dias 7 e 8 de maio na Universidade Roma Tre e no Instituto Guimarães Rosa, em Roma.