1. Depois de ter assinado a retirada dos Estados Unidos do Acordo Transpacífico de Comércio Livre, o novo presidente Donald Trump prepara a renegociação do tratado comercial entre os EUA, o Canadá e o México, ao qual noticiários se referem pela sigla NAFTA, sobretudo usada como acrónimo, isto é, lida como se fosse a palavra nafta. Esta é uma abreviação do inglês North American Free Trade Agreement, o mesmo que Acordo de Comércio Livre da América do Norte, conforme tradução da Infopédia (Porto Editora). Convertendo a expressão portuguesa em sigla, obtém-se ACLAN, que também pode comportar-se como acrónimo ("aclã")*. E se os noticiários em português deixassem de difundir formas inglesas e passassem a empregar esta e outras siglas em português? Lembre-se, por exemplo, o caso de OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ainda à espera de finalmente substituir o inglês NATO (North Atlantic Treaty Organization) nas notícias publicadas em Portugal.
* Para o espanhol, a Fundéu BBVA já recomendou o uso da sigla espanhola correspondente: TLCAN. Em português, ocorre expressão semelhante – Tratado Norte-Americano de Livre Comércio –, cuja sigla seria "TNALC". A solução da Porto Editora pode ter vantagem, por a sigla correspondente, ACLAN, parecer mais fácil de pronunciar como acrónimo.
2. Aboim das Choças, Anais, Ancas, Cabeça Gorda, Carne Assada, Minhocal, Mioma, Nariz, Picha, Sarilhos Pequenos, Vale de Azares são alguns dos casos de toponímia insólita que pontuam o mapa de Portugal, do Minho ao Algarve, autênticos ex-líbris «que não lembram ao diabo» – como se descreve num trabalho da jornalista Joana Marques Alves, publicado no diário português i de 25/01/2017, que se disponibiliza na rubrica O nosso idioma, com devida vénia.
3. No consultório, comentam-se o a aberto átono de camião, o diminutivo colherinha e a grafia de hipereloquente. Outra dúvida, ainda: o significa cantera em futebolês?
4. Na rubrica Acordo Ortográfico (em espaço próprio relacionado com os contributos colocados na subárea Critérios a rever – propostas e soluções), o consultor D'Silvas Filho apresenta considerações críticas sobre o atual Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), elaborado no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa.
5. Na mesma rubrica – e na subárea correspondente – deixamos assinalada a petição do movimento Cidadãos contra o "Acordo Ortográfico" de 1990 e os argumentos de um dos seus subscritores, o realizador António-Pedro Vasconcelos, na RTP Notícias, no sentido da desvinculação de Portugal da norma ortográfica em vigor oficialmente no país desde 2009.
6. Entretanto, a Academia das Ciências de Lisboa aprovou as suas propostas de alterações ao Acordo Ortográfico de 1990 que anunciara já em 23/11/2016, com vista a adequá-lo melhor à variedade do português de Portugal**. Ao documento aprovado – Sugestões para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa** –, será dado o devido realce numa próxima atualização.
** No comunicado divulgado, a Academia das Ciências de Lisboa sublinha que se trata de «um contributo que resulta de aturada reflexão em torno da aplicação da nova ortografia e sobre algumas seis particularidades e subtilezas da língua portuguesa que não podem ser ignoradas em resultado de um excesso de simplificação. E nele esclarece o que entende por ‘aperfeiçoamento’: «Aperfeiçoar o Acordo Ortográfico não significa rejeitar a nova ortografia, mas antes aprimorar as novas regras ortográficas e retocar determinados pontos para fixar a nomenclatura do Vocabulário e do Dicionário da Academia.»
7. Temas dos programas desta semana produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:
– Que problemas se colocam a nível linguístico-comunicativo em contextos escolares reais africanos? Como se pode ensinar o português língua não materna? O Língua de Todos de sexta-feira, 27 de janeiro (às 13h15***, na RDP África, com repetição no sábado, 28 de janeiro, depois do noticiário das 9h00***), conversa com a Professora Helena Ançã, especialista no ensino do português como segunda língua, em contexto africano.
– O Glossário da Poesia Medieval Galaico-Portuguesa (GLOSSA) constitui o primeiro repertório lexical dicionarizado, contextualizado e exaustivo do corpus da lírica profana galego-portuguesa: cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e de maldizer, para além de alguns textos de outros géneros com uma menor representação. A primeira versão completa do glossário está acessível no sítio do projeto, que nasce no seio do Grupo de Investigación Lingüística e Literária (ILLA) da Universidade da Corunha. O Páginas de Português de domingo, 29 de janeiro (na Antena 2, às 12h30***, com repetição no sábado seguinte, às 15h30***), entrevista Manuel Ferreiro Fernández, investigador principal do GLOSSA e seu orientador.
*** Hora oficial de Portugal continental.
8. Ainda a propósito de poesia lírica profana galego-portuguesa, assinale-se o lançamento de Cantigas medievais galego-portuguesas: corpus integral profano, no dia 30 de janeiro p. f., pelas 18h00, no auditório da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa. Com coordenação da professora Graça Videira Lopes (Universidade Nova de Lisboa), trata-se de uma coedição da BNP, do Instituto de Estudos Medievais (IEM) e do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM), cuja apresentação é feita pelo professor Xosé Ramón Pena, especialista em língua e literatura galega. Recorde-se que a versão eletrónica desta obra se encontra em linha desde 2011 na página Cantigas Medievais Galego-Portuguesas.
9. A próxima atualização do Ciberdúvidas fica marcada para 30 de janeiro p. f.