1. No presente ano, comemoram-se 40 anos sobre a aprovação da Constituição da República Portuguesa, derrubado que fora o regime fascista do Estado Novo pelo Movimento das Forças Armadas em 25 de abril de 1974, e, consequentemente, o fim da polícia política e da guerra colonial em África. Várias têm sido as iniciativas que, desde 2 de abril p. p., assinalam a efeméride da lei fundamental do Estado de direito no país, como é o caso do Fórum das Políticas Públicas, que se realiza em Lisboa nos dias 24, 25 e 31 de maio, desta vez dedicado à análise e ao debate dos fundamentos constitucionais das políticas públicas em setores como a saúde, a proteção social, a educação, a justiça, o território e a igualdade. Sobre a palavra constituição e as que dela derivam, guarda o arquivo do Ciberdúvidas várias respostas e artigos marcantes do regresso à vida em democracia do portugueses, que se justifica lembrar. Por exemplo: Anticonstitucionalmente e antoconstitucionalissimamente, A pseudopalavra 'inconstitucionalissimamente', Sobre a palavra 'inconstitucionalissimamente', "Inconstitucionalissimamente", de novo, Divisão silábica de incontitucionalissimamente, Anticonstitucionalissimamente, O palavrão do ano. Acerca dos direitos linguísticos consagrados pela constituição portuguesa, ler também O direito à língua, do constitucionalista Jorge Miranda, e Cada vez mais distante a promoção do português no mundo, para recordar uma situação que limitava o direito ao ensino do português em 2012.
Fonte da imagem (ao lado): concurso escolar Mais de 32 Mil Palavras de Liberdade, realizado pela Câmara Municipal do Seixal para marcar o 40.º aniversário da Constituição da República Portuguesa.
2. A incessante procura de recursos energéticos trouxe mais um anglicismo para o português – fracking, que designa um processo de extração de gás e petróleo. Não parece haver ainda alternativa portuguesa generalizada, mas o dicionário da Porto Editora já regista «fraturamento hidráulico» (subentrada de fraturamento), com a seguinte definição: «processo que consiste em injetar líquido, areia e químicos a alta pressão em formações rochosas subterrâneas, de forma a forçar fissuras já abertas e extrair óleo ou gás aí retidos». É o que se anuncia agora em Portugal, no Algarve, cuja forte contestação propiciou mesmo abaixo-assinado anti-fracking, subscrito por entidades e personalidades de vários quadrantes. Dirigindo novamente a atenção para o que se faz em línguas irmãs e vizinhas, encontramos, em alternativa a fracking, uma expressão castelhana semelhante à proposta da Porto Editora entre as recomendações da Fundéu BBVA – Fundación del Español Urgente: trata-se de fracturación hidráulica, à qual a Fundéu soma hidrofracturación. Este último exemplo em espanhol pode ser transposto sem grande dificuldade para português como hidrofraturamento, forma que tem igual cabimento nos padrões morfológicos do português.
3. Registe-se a realização do colóquio A Língua Portuguesa nos Dias de Hoje, que começa neste dia e decorre até 25 de maio p.f., promovido pela Academia das Ciências de Lisboa (ACL), com vista a «envolver todos os interessados e, sobretudo, investigadores, professores, formadores, estudantes, profissionais, que se dedicam a problemas relacionados com a língua portuguesa, numa reflexão conjunta sobre a língua portuguesa como idioma do futuro» (ver notícia e programa nas páginas da ACL).
4. No consultório, quatro respostas em linha: livro é holónimo ou hiperónimo de folhas? Como se escreve a forma verbal reduz seguida do pronome pessoal -o? Assertivo e certo são da mesma família de palavras? Qual o superlativo absoluto de heroico? E porquê, já, sem acento no ditongo oi? A eliminação no Afeganistão do líder máximo da fação político-militar mais fundamentalista do ponto de vista religioso recomenda a recuperação de uma resposta em arquivo, esclarecedora sobre a forma aportuguesada da palavra "taliban", seja no singular como no plural.
5. Finalmente, voltamos a lembrar a campanha SOS Ciberdúvidas, promovida em apoio à sustentação do serviço que aqui se presta há quase 20 anos, gracioso e sem fins comerciais – e que conta, tão-só, com a generosidade de quantos, por esse mundo fora, não dispensam a consulta regular deste espaço simultaneamente de esclarecimento, informação, reflexão e debate sobre a língua portuguesa, o idioma oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.