A comunidade himba - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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A comunidade himba
A comunidade himba
A tribo das mulheres de vermelho, no Sul de Angola

«(...) As mulheres, de uma a beleza escultural incomum, usam tranças cobertas com ocre vermelho, as quais formam um exótico penteado, com a pele revestida com a mesma espécie de argila. Uma aparência rara que guarda séculos de história e cultura. (...)» 

 

Descendentes dos pastores hereros, os himbas¹ são considerados um dos últimos povos seminómades da África. Estima-se que sejam, ao todo, entre 20 mil a 50 mil pessoas, vivendo atualmente próximo do rio Cunene, que marca a fonteira entre Angola e a Namíbia, entre os dois países.

Falam a língua Optjihjmba, um dialeto Herero e como vivem sob um clima árido onde água é um recurso muito escasso, a higiene é feita através de fumaça – tanto a higiene pessoal como a das suas roupas, feitas de resina e algumas plantas aromáticas queimadas, banhando-se  com essa fumaça. 

As mulheres são célebres, por se apresentarem cobertas de otjize, uma mescla de gordura de manteiga e ocre, para se protegerem do sol e do vento. A mistura deixa-lhes a pele com uma tonalidade avermelhada, simbolizando a cor da terra vermelha e do sangue que representa a vida – um traço fisionómico característico da beleza feminina himba: tranças no cabelo coberto com a mesma mistura de ocre.

Daí a  tribo himba ser  considerada uma das mais encantadoras de África. É um matriarcado no seu expoente máximo: quem manda são as mulheres. Elas são as "donas" dos filhos, das casas, do gado e de todos os utensílios que existem nas aldeias.

O culto dos ancestrais

A sua divindade tem o nome de Mukuru, e os himbas usam um fogo ancestral para comunicar com os espíritos dos seus antecessores. De acordo com a religião do povo himba, Mukuru criou o homem, a mulher e o gado a partir da mesma árvore. Ao contrário da maioria das outras religiões monoteístas, Mukuru não tem um poder ilimitado e os antepassados podem influenciar fortemente o mundo dos vivos e o que nele acontece.

Uma das funções do líder masculino da família himba é manter o fogo ancestral, aproximar-se periodicamente do fogo com o intuito de comunicar com o seu deus e os seus ancestrais. Na religião himba, Mukuru a maioria dos elementos do mundo físico, como a terra, a água e o clima, mas são os antepassados que determinam as doenças ou a condição do gado. Por exemplo, se alguém ficar doente, um himba acredita que os espíritos dos antepassados foram de alguma forma ofendidos pelas acções da família.

O gado bovino é o principal símbolo do estatuto de uma família himba; por isso são consideradas mais ricas e mais importantes as mulheres que possuam mais cabeças de gado.

O roubo do gado é punido com a morte. A carne é reservada apenas para eventos especiais, como casamentos e funerais. Quando um himba morre, mata-se uma parte do seu gado e as cabeças são empilhadas ao lado da sepultura, para proteger o seu espírito. 

¹ Em Angola, os himbas, tal com os dimbas ou cuvales (vakuval, muitas vezes designados como mucubais), são considerados povos hereros, ou aparentados aos hereros: povos pastores, nómadas ou seminómadas, que vivem nas províncias da Huíla e do Namibe

Cf. Tribo Himba: uma cultura seminómada da Namíbia + Mulheres que nunca tomam banho + Uma cultura milenar + Hereros-Angola + Kwadi: uma língua perdida de Angola com uma história para contar 

Fonte

Texto adaptado de um artigo publicado no Jornal de Angola, no dia 8 de setembro de 2022.