Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de autores lusófonos sobre a língua portuguesa, de diferentes épocas.

Surpreendo-me discorrendo sobre alguns mitos emergentes na sociedade angolana, sem rumo certo e em desfrute de lentos vagares, mas logo me deixo enlear por coisas de somenos, pequenas dúvidas, questões teóricas. Será que esses mitos, sobre os quais me debruço, existem mesmo antes de serem nomeados, ou apenas passaram a existir por terem sido nomeados?

Hoje toda a gente diz portanto. Toda a gente é talvez um exagero, uma falta de rigor, mas toda a gente já reparou que muita gente diz portanto, a torto e a direito. Sobretudo gente culta, ou tida como culta, vá-se lá saber em muitos casos por que bulas, mais nas cidades do que no campo – políticos, militares, advogados, médicos, engenheiros, professores, estudantes, jornalistas, escritores, todos dizem portanto, dando a ideia de que se trata de palavra indispensável, ou p...

Sempre houve, desde o século XVI até ao realismo, grande amor à língua, à sua pureza e ao seu enriquecimento; abundam os pleitos sobre estilo e muitos foram os autores que fizeram declarações enfáticas de sacrificar a esse culto da sua linguagem a maior divulgação que lhes daria o uso da castelhana, entre eles António Ferreira e Frei Bernardo de Brito, como também houve os que souberam tornar-se clássicos tanto na portuguesa como na castelhana. Mas esses desvelos visavam à criação de um estil...

Um livro, para a escola velha, é um frasquinho cheio de «ciência»; um livro, para o laboratório, é como um estojo com instrumentos; por isso ele é decorado dentro da aula, e por isso no laboratório ele é usado.

As ideias, para o cientista, são ferramentas e são bússolas; para os estudantes, são ainda como panóplias de museu...

A maior surpresa de quem estuda a história do Brasil deve ser como o pequeno povo português, distraído aliás por interesses maiores nas Índias, conseguiu contra Franceses, Flamengos, Ingleses e Espanhóis, manter por três séculos a continuidade da posse e a unidade territorial de um domínio estendido por 39 graus de latitude e outros tantos de longitude, grande de oito milhões de quilómetros quadrados e exposto em oito mil quilómetros de costas às invasões marítimas.

No apuramento da linguagem

«Escrever como  [Gomes  Eanes de] Azurara ou Fernão Mendes [Pinto]  seria hoje um anacronismo insuportável. Cada tempo tem o seu estilo. Mas estudar-lhes as formas mais apuradas da linguagem, desentranhar deles mil riquezas que, à força de velhas, se fazem novas – não me parece que se deva desprezar.»

[Machado de Assis, in  Novo Mundo: Periodico Illustrado do Progresso da Edade (Nova Iorque, EUA, 1870 a 1879]

A cadência rítmica <br> do português arcaico
O exemplo de balada de Sancho I

«Os legítimos textos arcaicos não são uma floresta oscura, selvaggia ed aspra e forte, uma série de vocábulos raros e complicados, entrelaçados em construções bárbaras», ecreve neste apontamento a filóloga Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851 — 1925), transcrito da Introdução do livro Lições de Filologia Portuguesa.

A língua em que trabalha Anatole France é da mais pura liga. Admiremo-la e invejemo-la!

A nenhum povo concedeu a caprichosa Providência uma dinastia de lapidários da linguagem como a que teve a França do século de Corneille, de Racine, de Boileau, de Fénelon e de La Fontaine.

«A inteireza do espírito começa por se caracterizar no escrúpulo da linguagem. A vida parlamentar, a administração e o jornalismo têm sido, em toda a parte, os mais poderosos corrutores da língua e do bom-gosto. Aspirar à clareza, à simplicidade e à precisão sem um bom vocabulário e uma gramática exacta, seria querer o fim sem os meios. (...)»

 

[in Da Réplica do senador Ruy Barbosa às defesas de redacção do projecto de Código Civil brasileiro, Cf. Obras Completas de Rui Barbosa, Vol. XXIX, 1902, Tomo  IV.]

Regressei há poucos dias de Paris, onde estive a convite do Festival Atlântida, uma iniciativa, já na segunda edição, que se propõe divulgar em França a literatura e a música dos países de língua portuguesa. Havia cinco escritores portugueses, cinco africanos e um brasileiro.