Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de autores lusófonos sobre a língua portuguesa, de diferentes épocas.
No apuramento da linguagem

«Escrever como  [Gomes  Eanes de] Azurara ou Fernão Mendes [Pinto]  seria hoje um anacronismo insuportável. Cada tempo tem o seu estilo. Mas estudar-lhes as formas mais apuradas da linguagem, desentranhar deles mil riquezas que, à força de velhas, se fazem novas – não me parece que se deva desprezar.»

[Machado de Assis, in  Novo Mundo: Periodico Illustrado do Progresso da Edade (Nova Iorque, EUA, 1870 a 1879]

A cadência rítmica <br> do português arcaico
O exemplo de balada de Sancho I

«Os legítimos textos arcaicos não são uma floresta oscura, selvaggia ed aspra e forte, uma série de vocábulos raros e complicados, entrelaçados em construções bárbaras», ecreve neste apontamento a filóloga Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851 — 1925), transcrito da Introdução do livro Lições de Filologia Portuguesa.

A língua em que trabalha Anatole France é da mais pura liga. Admiremo-la e invejemo-la!

A nenhum povo concedeu a caprichosa Providência uma dinastia de lapidários da linguagem como a que teve a França do século de Corneille, de Racine, de Boileau, de Fénelon e de La Fontaine.

«A inteireza do espírito começa por se caracterizar no escrúpulo da linguagem. A vida parlamentar, a administração e o jornalismo têm sido, em toda a parte, os mais poderosos corrutores da língua e do bom-gosto. Aspirar à clareza, à simplicidade e à precisão sem um bom vocabulário e uma gramática exacta, seria querer o fim sem os meios. (...)»

 

[in Da Réplica do senador Ruy Barbosa às defesas de redacção do projecto de Código Civil brasileiro, Cf. Obras Completas de Rui Barbosa, Vol. XXIX, 1902, Tomo  IV.]

Regressei há poucos dias de Paris, onde estive a convite do Festival Atlântida, uma iniciativa, já na segunda edição, que se propõe divulgar em França a literatura e a música dos países de língua portuguesa. Havia cinco escritores portugueses, cinco africanos e um brasileiro.

O português amador da gaia ciência, que, nado e criado neste mais velho rincão do país, "riberas del Duero arriba", fosse no século XIII à corte de Castela, onde tantos acudiam a terçar cantigas de amigo, de escárnio, e serranilhas, com os trovadores da aula régia de Afonso o Sábio, sem embaraço na sua língua falaria e versejaria. À roda do monarca, organizador da actividade intelectual de Espanha, como D. Dinis, seu émulo em poesias e letras, o foi em Portugal, modula-se o idio...

As palavras estrangeiras, entendendo por estrangeiras as que, não sendo portuguesas, não são contudo gregas nem latinas (ou árabes?), são de três espécies:

a)As que são absolutamente estrangeiras e ou não susceptíveis de nacionalização (como whisky, kirsh, que são paralelas, na matéria, a apelidos estrangeiros e aos nomes de terras estrangeiras que não tiveram nome latino ou grego como o são às citações em língua estrangeira, que haja necessidade de fazer), ou podendo t...

Poema de Carlos Drummond de Andrade (1902 — 1987), transcrito do livro Poesias (1942), in "Selecta em Prosa e Verso", ed. Record, Rio de Janeiro, sob apresentação e notas de Gilberto Mendonça Teles.

Tudo que seja defender e preconizar a beleza e pureza da linguagem é um óptimo serviço feito às Letras. Não quer dizer que esse louvor, para quem o entenda em sentido mesquinho, deva fempecer a vida latejante, a poesia alada, a originalidade e a arte de cada publicista, prendendo-lhe o voo às rebuscadas do Léxico. Já Eça de Queiroz dizia a Camilo, na deliciosa carta póstuma, que Camilo não chegou a ler: "Falando de V. Exª, eu considero sempre a sua imaginação, a sua maneira de ver o mundo, o ...

Soneto  do poeta e jornalista brasileiro  Olavo Bilac (1865-1918) incluído na antologia Paladinos da Linguagem, organizada por Agostinho de Campos.