Portugueses: mestres da pronúncia - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Portugueses: mestres da pronúncia

A semelhança entre certas particularidades, comuns ao português e ao japonês, com igual paridade entre o português e o malaio, explicam suficientemente o fenómeno, que pareceria extraordinário, de ser a representação portuguesa dos nomes de muitas regiões da Ásia, onde estivemos e dominámos, a mais fiel às pronúncias vernáculas, entre as de todas as línguas europeias. O mesmo se pode dizer a respeito da nomenclatura da África, a sul do Equador.

É de notar que, mesmo para o chinês e o anamita, a nossa figuração haja sido tão exacta, que com referência à primeira Callery (1) afiança ser a melhor de todas, e acerca da segunda é certo haver-se conservado até hoje tradicionalmente a escrita portuguesa dos nomes na literatura científica europeia, e no trato comercial, escrita que fora estabelecida pelos nossos frades, a quem é devido o conhecimento de muitos idiomas asiáticos na Europa. Parece mesmo que a facilidade de aprender idiomas estranhos com perfeição, e de bem os apreciar pelo ouvido e imitar na pronúncia, é prenda nossa antiga; como é geralmente reconhecido que, pondo de parte aptidões individuais, somos nós, os Portugueses do sul, na Europa, os estrangeiros que melhor proferem o francês, o inglês, o italiano, etc.

Caso singular! Os Portugueses adquirem sem maior dificuldade pronúncia castelhana correctíssima, sendo raríssimo que se dê perfeição na pronúncia dos Espanhóis, quando falam português.


(1) Sinólogo francês, falecido em 1862. Foi secretário-intérprete de Napoleão III e escreveu, entre outras obras, o "Dicionário Enciclopédico da Língua chinesa".

 

Fonte

Título de Ciberdúvidas. Texto extraído de "Palestras Filológicas", Lisboa, 1910, pág. 177, in "Paladinos da Linguagem ", 1.º vol., Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921.

Sobre o autor

Aniceto R. Gonçalves Viana (Lisboa, 1840 – 1914), foi um filólogo, linguista e lexicógrafo português. Considerado um dos mais importantes foneticistas portugueses, fez a primeira descrição do sistema fonético do português em 1883. Foi um dos membros da Comissão de Reforma Ortográfica de 1911 e colaborou na Revista do Conservatório Real de Lisboa (1902). Das suas obras, destacam-se: Exposição da pronúncia normal portuguesa para uso de nacionais e estrangeiros (1892), Vocabulário ortográfico e ortoépico da língua portuguesa (1909) e Vocabulário ortográfico e remissivo da língua portuguesa (1912).