DÚVIDAS

Pensar + indicativo ou conjuntivo

Tenho uma dúvida quanto às seguintes frases:

«"Pensei que estavas a falar sobre...»

«"Pensei que era o único...»

«Pensei que era mais simples.»

As frases estão gramaticalmente correctas? Sempre ouvi «pensei que estivesses/fosse», daí os exemplos acima soarem mal.

Que regras gramaticais se aplicam a estes exemplos?

Obrigado.

Resposta

Depois do verbo pensar, podem registar-se formas quer do conjuntivo quer do indicativo.

É verdade que se recomenda o conjuntivo quando uma ação ou um facto apresentado como duvidoso, condicional, ou remetendo para um pedido ou ordem. Na Gramática da Língua Portuguesa de Vítor Fernando Barros, Âncora Editora/ Edições Colibri, 2011, p. 126, salienta-se que «o modo conjuntivo exprime um facto provável, desejável ou duvidoso». Estas são as condições gerais de uso do conjuntivo, mas acontece que o verbo pensar aceita quer o indicativo quer o conjuntivo. Por exemplo, encontra-se um comentário de Vasco Botelho de Amaral (Grande Dicionário das Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958), que atesta o uso deste verbo com uma subordinada finita de indicativo:

«Pensar. Geralmente, pensar, como transitivo, é sinónimo de imaginar, julgar, afora a acepção de tratar: "penso que deve ser assim". Com a regência em apresenta antes a significação de refletir, meditar: "pensei no que aconteceria".

O Dicionário Sintático de Verbos Portugueses de Winfried Busse, Liivraria Almedina, 1994, regista pensar como verbo que pode selecionar uma oração subordinada finita de indicativo ou conjuntivo, com as seguintes abonações: «Penso que ainda chegue hoje. Pensava que viesse hoje. Penso que vai chegar hoje. Nunca pensei que ele vinha.  Nunca pensei que ele estivesse tão zangado comigo.»

Acrescente-se que, sobre a relação dos valores de dúvida com o modo conjuntivo, a Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 1842, observa o seguinte:

«Apesar de, tipicamente, o modo conjuntivo estar associado ao domínio do incerto ou do hipotético, não existe uma relação direta entre conjuntivo e "não realidade" [...].

Os predicadores [isto é, para simplificar, os verbos, em geral] associados à expressão de valores de crença não têm um comportamento homogéneo. [...] [H]á um subgrupo de predicadores de crença que admite quer o conjuntivo quer o indicativo na oração subordinada. É o caso de verbos como acreditar, crer ou imaginar [...]:

(87) a. A polícia acredita que a testemunha mentiu.
        b. A polícia acredita que a testemunha tenha mentido. [...]»

O verbo pensar, que, como se viu, tem afinidade com imaginar, alinha, portanto, com este subgrupo dos verbos de crença.

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