As questões colocadas pelo consulente envolvem um caso limite dos verbos auxiliares.
Assim, nas situações em que o verbo ir surge numa frase com um sujeito agentivo e com uma expressão direcional, este não funciona como auxiliar.
Nas frases apresentadas em (1) e (2),
(1) «(O) João vai comer ao restaurante.»
(2) «Milhões de imigrantes vão trabalhar para os Estados Unidos.»
verificamos que os constituintes «(O) João» e «Milhões de emigrantes» controlam a situação expressa pelo verbo (sendo, portanto, agentivos). Por outro lado, em ambas as frases está presente uma expressão direcional («ao restaurante» e «para os Estados Unidos»). Estas expressões são, em ambos os casos, complemento oblíquo do verbo ir: «ir ao restaurante» e «ir para os Estados Unidos», o que mostra que ir, nestas situações, não é um verbo auxiliar, mas sim um verbo pleno.
O predicado que segue o verbo ir é, então, como afirma o consulente, uma oração (reduzida) de infinitivo que é semanticamente equivalente a uma oração subordinada adverbial final («para comer» e «para trabalhar»).
Quanto às frases apresentas em 4), elas não são possíveis porque o constituinte que inclui a expressão direcional, ao ser afastado do verbo ir, procura funcionar como complemento do verbo da oração infinitiva, o que torna a frase agramatical. Esta agramaticalidade fica também a dever-se ao facto de o verbo ir voltar a funcionar como auxiliar por ter perdido o seu complemento, situação em que é incompatível com uma oração subordinada final1.
Disponha sempre!
1 Para um maior aprofundamento, cf. Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1263-1266.