Não, no caso apresentado não se deve usar a vírgula entre «Ocorre que» e «o sobredito delito», porque «o sobredito delito» funciona como sujeito da oração anterior. Repare-se que, se alterarmos a ordem das palavras na frase, tudo se torna mais evidente:
O sobredito delito [que ocorre = ocorrido] já fora investigado no inquérito policial n.º 00/000 – DECCV, instaurado em 00.00.000.
Assim, a forma correta é:
«Ocorre que o sobredito delito já fora investigado no inquérito policial n.º 00/000 – DECCV, instaurado em 00.00.000.»
Ora, nunca se deve colocar a vírgula entre o sujeito e o predicado, assim como este sinal de pontuação não deve ocorrer ente o predicado e o complemento/objeto direto ou complemento/objeto indireto. Citando a regra, só se pode usar a vírgula no interior da oração (e da frase, de acordo com a nova nomenclatura do Dicionário Terminológico) «para separar elementos que exercem a mesma função sintática (sujeito composto, complementos, adjuntos), quando não vêm unidos pelas conjunções e, ou e nem» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 640).
Nota: Importa referir que o verbo ocorrer (assim como acontecer ) é um dos «verbos inacusativos ou ergativos, considerados intransitivos na tradição gramatical luso-brasileira, […] que selecionam um argumento interno que ocorre com a relação gramatical de sujeito» (Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 300)