O verbo procurar é um verbo transitivo, construindo-se predominantemente sem qualquer preposição. Pode, no entanto, ocorrer com a preposição por, quando o objecto procurado, muitas vezes uma pessoa, tem um valor afectivo para o sujeito: «Procurei por ti o dia inteiro»; «Procurou por ela o dia inteiro».
Note-se que, embora o complemento do verbo seja introduzido por uma preposição, ele continua a desempenhar a função de complemento directo, como prova a possibilidade de o substituir por um pronome pessoal: «Procurei-te o dia inteiro»; «Procurou-a o dia inteiro». A frase que consta do exercício disponível na página indicada está, pois, incorrecta e deveria estar escrita: «Procura-se [ou procuram-se] empregados.» Note-se que o que se procura avaliar com este exercício – que, como outros disponíveis no mesmo local, prestam um bom auxílio aos professores ao permitir uma prática interactiva, tão do agrado dos jovens – é o uso do número do verbo em construções pronominais, como em «Aluga-se casas» ou «Alugam-se casas», respectivamente ponto 7 e 8 do mesmo teste. É face a esta situação que deve ser lido o resultado que é dado, embora o facto de não ser objecto de avaliação específica não possa justificar a utilização de uma frase agramatical, ou seja, que não obedece às regras do português.
Note-se ainda que, para o autor deste exercício, a versão correcta para o tipo de questões que pretende avaliar é a utilização do plural, quando o verbo é transitivo, ou seja, considera-se correcto «Alugam-se casas» – não aceitando, como muitos outros estudiosos, as situações em que o pronome pode ser pronome indefinido como em «Aluga-se casas». Por outro lado, quando o verbo é seguido de preposição, considera correcta a versão do verbo no singular como no exemplo que aparece no ponto 9: «Precisa-se de operários», ou seja, reconhece, correctamente, a partícula se como podendo ser apenas pronome indefinido.
Voltando à regência dos verbos, devo dizer que é um tema difícil que foi um pouco esquecido durante muito tempo, sobretudo pelos dicionários. Hoje, há um conjunto que costuma designar-se dicionários de nova geração que, mesmo quando não referem explicitamente a regência, a aplicam nas abonações que introduzem. São eles:
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2003; Novo Aurélio do Séc. XXI: o dicionário da língua portuguesa, Nova Fronteira, 1999; Dicionário Houaiss, tanto na versão adaptada ao português europeu, da Temas e Debates, 2003 (ou do Círculo de Leitores, 2002-2003), como na versão adaptada ao português do Brasil. Há também dicionários especializados que contemplam alguns aspectos, mas que, como todos os dicionários, não abrangem nem a totalidade das situações que podem ocorrer com cada verbo, nem a totalidade dos verbos. Não há, pois, um instrumento único que lhe possa indicar. Posso, no entanto, referir-lhe os que conheço. Antes de mais, o próprio Dicionário de Verbos, da Porto Editora, que, para além da conjugação, contém um espaço dedicado à regência de alguns verbos, com uma estrutura idêntica à que tem o Vocabulário que referiu. Existem ainda no mercado pelo menos mais três:
Guia Prático de Verbos com Preposições, Lisboa, Lidel, 1998, de Helena Ventura e Manuela Caseiro; Verbos Portugueses, Coimbra, Quarteto, 2003, de António Matoso; Dicionário Prático de Regência Verbal, S. Paulo, Ática, 2002 de Celso Pedro Luft.
Este último é, de todos, o mais completo e mais rigoroso. Além disso, embora o seu autor seja brasileiro, o facto de conter muitos exemplos devidamente identificados anula a possibilidade de associarmos ao português europeu uma regência que caracterize a variante do português do Brasil, ou vice-versa.