Entre os vocábulos elencados na pergunta, há de facto dois que têm origem indubitavelmente céltica, dólmen e embaixada, mas importa sublinhar que nenhum foi transmitido diretamente por falantes de céltico aos falantes de latim no atual território português, não fazendo parte do léxico patrimonial da língua portuguesa.
Assim, com base na consulta do Dicionário Houaiss e no Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico, de Joan Coromines e José Antonio Pascual, comentam-se as palavras em questão (o * indica forma não documentada, de caráter hipotético e deduzida de formas atestadas):
abrunho/abrunheiro – do latim prunum, i, «ameixa», ; abrunheiro será um derivado de abrunho, sendo este termo a denominação do fruto e aquele a da árvore.
barra – vem do latim vulgar *barra, «travessa, tranca de fechar porta», que será adaptação de um empréstimo pré-latino, talvez do céltico gaulês *barros, «penacho, copa (de árvore)» (o que não impede que a palavra tenha origem mais remota).
dólmen – é um celtismo tardio, do córnico tolmên, «buraco de pedra»; em português, os dicionários só atestarão a partir de 1873.
dorna – talvez de uma forma hispânica do céltico dŭrno- (irlandês dorn, galês dwrn, «punho», bretão dourn, «mano»), palavra usada como expressão de medida e que terá passado a designar um recipiente;
embaixada – embora o Dicionário Houaiss indique que tem origem no francês ambassade, o facto de a palavra estar atestada em português desde o século XIV favorece a hipótese de uma origem provençal, em ambayssada, «mensagem», que evoluiu do baixo latim ambactia, relacionado com o céltico ambactus, «servidor»;
menino – origem obscura; uma criação expressiva, segundo o Dicionário Houaiss, seguindo o dicionário de Coromines e Pascual;
bidoeiro/vidoeiro – o Dicionário Houaiss regista duas hipóteses: «segundo [Antenor] Nasc[entes], lat. *betulu, por betŭla , através do arcaico vidoo, vido + suf. -eiro; para J[osé Pedro] M[achado], lat *betulariu- (arbor), calcado em betŭla»; mas é possível recuar ao céltico, como fazem Coromines e Pascual, que, seguindo Alfred Ernout e Alfred Meillet (Dictionnaire Étymologique de la Langue Latine), relacionam o latim betŭla e os seus derivados com um radical de origem céltica (cf. galês bedwen = bétula).
Em conclusão, das palavras apresentadas na pergunta, há duas (abrunho e menino) muito provavelmente sem relação com as línguas célticas, três (barra, dorna e vidoeiro) que podem ter e duas que têm mesmo essa origem. Como já se disse, nenhum destes casos documentará situações de transmissão direta de línguas célticas ao latim que se desenvolveu no nosso território, sendo um deles, dólmen, aliás, um empréstimo tardiamente introduzido no português.
Quanto ao inventário dos celtismos do português, trata-se de um trabalho impraticável neste espaço. Talvez os dados da toponímia facultem informação mais conclusiva quanto à identificação de eventuais celtismos patrimoniais do português, tarefa que certamente encontrará importante apoio nos estudos toponímicos galegos, geralmente mais focados na avaliação desse contributo.