Começaremos por esclarecer a razão pela qual palavras como «tão… que» , que surgem em oração subordinadas consecutivas, não são consideradas uma locução. Uma locução é um conceito gramatical que descreve um conjunto de duas ou mais palavas que desempenham uma função gramatical única.
Ora, tal não é o caso de estruturas como «tão…que». Nesta situação, estamos perante um operador consecutivo que, na oração principal assinala o grau e pede uma oração subordinada iniciada pela conjunção que, predicando, deste modo, sobre uma consequência associada ao grau. Por esta razão poderemos usar a frase (1), na qual se predica apenas sobre o grau, e a frase (2), na qual se predica sobre uma consequência associada ao grau:
(1) «Ele é tão forte.»
(2) «Ele é tão forte que transportou tudo sozinho.»
Este comportamento é diferente do que se identifica em locuções como «quer… quer» ou «não só… mas também».
Em segundo lugar, locuções como «no entanto», «por isso», «por consequência», entre outras, não são consideradas pelas abordagens gramaticais mais recentes como locuções coordenativas porque a análise do seu comportamento na frase evidenciou que estas têm um comportamento distinto das conjunções coordenativas. As conjunções, segundo Mateus1, caracterizam-se por ocupar a posição inicial do membro coordenado; não poderem deslocar-se para o interior do termo coordenado; por coordenarem constituintes frásicos e não frásicos. Já os advérbios conectivos, como, porém, todavia e contudo, não têm obrigatoriedade de colocação em início do membro coordenado (3), podendo mover-se no seu interior e podem coocorrer com as conjunções (4):
(3) «O João chegou; não telefonou, todavia, a ninguém»
(4) «O João chegou, mas, todavia, não telefonou a ninguém.»
Deste modo, as palavras que têm comportamento similar ao descrito acima são consideradas, no quadro do Dicionário terminológico, advérbios conectivos.
Gratos pelas gentis palavras, que muito nos estimulam.
Disponha sempre!
Cf. Mateus et al., Gramática Portuguesa. Caminho, pp. 568-574.