No exemplo em questão, a primeira oração é uma oração adverbial condicional sem conjunção, estrutura que é correta e que está descrita tanto em gramáticas portuguesas como em gramáticas brasileiras.
Por exemplo, Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 2002, pág. 507), referindo este tipo de construção como «orações justapostas de valor contextual adverbial», observa o seguinte (itálico no original):
«A justaposição pode, no nível do texto, apresentar [...] interpretações [...] condicionais: tenho o verbo no tempo passado (mais-que-perfeito do indicativo ou imperfeito do subjuntivo) anteposto ao sujeito:
Tivesse eu dinheiro, conheceria o mundo. [...].
Em tais casos, a segunda oração pode começar pela conjunção e:
Vencesse eu, e não me dariam o prêmio. [...].»
A frase em questão, que apresenta o mais-que-perfeito do conjuntivo na primeira oração justaposta, é portanto legítima, como legítimo é o condicional composto (futuro do pretérito composto) que ocorre na segunda oração justaposta.
Deve, no entanto, assinalar-se que, neste tipo de construção condicional, a oração que marca a condição costuma ter sujeito realizado («tivesse eu dinheiro...»), com inversão, isto é, com o sujeito a figurar depois do verbo. Mesmo assim, não é impossível atestar usos em que se omite o sujeito, como acontece num exemplo recolhido na Gramática da Língua Portuguesa (Editorial Caminho, 2003, pág. 730): «Trabalhasses pouco na Faculdade e terias/tinhas logo problemas.»