Poderemos considerar a oração em questão como comparativo-condicional, uma classificação que não está prevista no Dicionário Terminológico e que, por esta razão, não se adequa ao contexto do ensino não superior.
Observe-se, antes de mais, que a frase assenta numa estrutura elíptica, que poderá corresponder ao que se apresenta em (1):
(1) «Ao ouvirmos as histórias sobre Pessoa, [esta experiência] é como se o conhecêssemos verdadeiramente.»
Deste modo, a oração principal será equivalente a (2), onde introduzimos o segmento «a experiência de» para facilitar a análise subsequente:
(2) «[A experiência de] Ouvir as histórias sobre Pessoa é como se o conhecêssemos verdadeiramente.»
A locução «como se» pode ser interpretada como expressando simultaneamente um valor comparativo e condicional1. Alguns autores, como Evanildo Bechara, apontam a possibilidade de se considerar que estamos perante uma oração comparativa que encerra, no seu interior, uma oração condicional, pois é possível desdobrar a construção em duas orações2:
(2a) «[A experiência de] Ouvir as histórias sobre Pessoa é como [seria a experiência] se o conhecêssemos verdadeiramente.»
Estas orações, como notaram alguns gramáticos, não assumem uma natureza completamente adverbial, podendo mesmo surgir em posições nominais, como ocorre na frase em análise, onde ocupa o espaço do predicativo do sujeito.
Por esta razão, poderemos considerar que a oração em análise, estando associada à cópula ser, desempenha a função de predicativo do sujeito.
De qualquer forma, estamos perante uma análise que poderá assumir contornos não consensuais e que considera aspetos não previstos no Dicionário Terminológico, pelo que não será ajustada aos conhecimentos previstos nos programas do ensino não superior.
Disponha sempre!
1. Cf. Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Ed. Caminho, p. 753.
2. Evanildo Bechara, Moderna gramática portuguesa. Ed. Lucerna, p. 659.