A preposição para na frase em análise dificilmente se enquadra na regência do verbo opinar.
O verbo opinar pode ocorrer como:
– transitivo direto com o sentido de «entender, achar»: «O João opinava que a tarefa devia ser concluída»;
– transitivo indireto acompanhado de complemento oblíquo antecedido pelas preposições, ou conetores sobre, acerca de, a respeito de, com o sentido de «emitir opinião»– «O comentador opinava sobre a situação presente» – ou com as preposições por, a favor de, contra, se veicular o sentido de concordância ou discordância – «Os presentes opinaram pela saída do líder.»
No caso da frase em apreço, poderemos, eventualmente, interpretá-la como veiculando uma posição favorável a uma dada situação e, nesse caso, a preposição esperada seria, por exemplo, por: «(?)Todas as pessoas podem opinar por uma melhor sociedade». Porém, o facto de o verbo surgir modalizado – «podem opinar» – enfraquece, a meu ver, a mensagem, pois indicia um distanciamento que afasta o locutor da mensagem que produz; por esse facto, assinala-se a frase com (?).
Outra interpretação possível para esta frase seria considerar «para uma melhor sociedade» como uma frase elítica, em que se omitiu o verbo: «para construir uma melhor sociedade».
Tendo em conta esta segunda leitura, para seria uma conjunção que está a introduzir uma oração subordinada adverbial final infinitiva. Efetivamente a frase no seu conjunto enquadra-se na definição apresentada por Maria Lobo na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, pág. 2011 e 2012), para as subordinadas adverbiais finais de evento, as quais «…descrevem a finalidade da situação descrita na oração principal…»
Teríamos, pois, uma potencial situação – «Todas as pessoas podem opinar» – orientada para uma dada finalidade: «para construir uma melhor sociedade» (preferiria a ordem: «para construir uma sociedade melhor.») Tal como vimos acima, também aqui o facto de a oração principal ter o seu predicado modalizado «podem opinar» afasta o locutor da mensagem produzida que vai ser interpretada como não vinculativa, convidando os recetores a opinar, ou não…
Em síntese, o vocábulo para na frase em análise dificilmente se enquadra na regência do verbo opinar, pois não introduz uma estrutura que possa ser identificada como tema ou assunto acerca do qual se opina quer concordando, quer discordando, quer emitindo opinião. O conjunto é mais facilmente interpretado como constituindo uma frase complexa, ainda que elítica, na qual se estabelece uma relação de subordinação final.