É um uso correto, tão correto como o de muito.
O advérbio de bem, que é geralmente um advérbio de modo, pode adquirir valor quantificacional e marcar intensificação quando se associa a um adjetivo. É uma possibilidade descrita numa gramática publicada em Portugal, a Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 1658):
«Os advérbios de modo bem e mal podem ter um sentido quantificacional quando se combinam com particípios escalares [isto é, que correspondem a uma escala, de um valor mínimo a um valor máximo]: cf. o tanque está bem/mal cheio, a sopa ficou bem/mal aquecida, o peixe ficou bem/mal cozido; em contrapartida, especificando adjetivos ou advérbios, apenas bem é permitido, veiculando também, tipicamente, uma avaliação subjetiva do falante: cf. eles estão bem/*mal velhos, gosto da sopa bem/*mal quente, a Joana chega sempre bem/*mal cedo.»
Os usos descritos pela gramática citada são usos perfeitamente correntes em Portugal, o que pode lançar dúvidas sobre a impressão de se tratar de um uso típico dos falantes do Brasil. Contudo, talvez haja algum fundamento empírico para ficar com essa ideia.
Com efeito, uma consulta da secção histórica do Corpus do Português revela que bem associado a adjetivos qualificativos é um pouco mais frequente (26 ocorrências) em textos brasileiros do que em textos em português de Portugal (17 ocorrências). Como se trata de amostra reduzidas, as frequências identificadas são meramente sugestivas e devem ser consideradas com algum cuidado. Mesmo assim, não confirmando a ideia de se tratar de uso caracteristicamente brasileiro, porque bem quantificacional é também largamente empregado em Portugal, estes dados permitem, pelo menos, supor que o advérbio tem algum tratamento especial entre falantes brasileiros.