O constituinte «de gelados», um sintagma preposicional, é selecionado como argumento interno pelo verbo avaliativo1 (e, também, casualmente defetivo1) gostar, um dos «verbos que selecionam um SP como seu argumento interno» (Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 413). Sendo selecionado pelo verbo, esse sintagma preposicional pertence, portanto, ao grupo/sintagma verbal, cuja estrutura sintática é SV = V(verbo = «gostam») + SP (sintagma preposicional = «de gelados»).
Fazendo a análise sintática da frase:
«As crianças» — sujeito (sintagma nominal)
«gostam de gelados» — predicado (grupo verbal)
«gostam»: verbo
«de gelados»: complemento oblíquo (sintagma preposicional).
Se consultarmos o Dicionário Terminológico [B.4. Sintaxe, B.4.2. Funções sintáticas], verificamos que o complemento oblíquo é uma das «funções sintáticas internas do grupo verbal», que é definido como «complemento seleccionado pelo verbo, que pode ter uma das seguintes formas: grupo preposicional que não é substituível pelo pronome pessoal na sua forma dativa (lhe/lhes) (i-ii), grupo adverbial (iii) e a coordenação de qualquer uma destas formas [por exemplo, (iv)]. Exemplos:
(i) O João foi [a Nova Iorque].
*O João foi-lhe.
(ii) O João gosta [de bolos].
*O João gosta-lhes.
(iii) O João mora [aqui].
(iv) O João vive [aqui ou em Lisboa]?»
Nota: Apesar de o verbo gostar selecionar orações completivas — finitas não preposicionadas [ex.: «O João gosta que a Maria toque flauta»] e não finitas precedidas da preposição de [ex.: «O João gosta de tocar flauta»] —, assim como seleciona complementos nominais precedidos pela preposição de (sintagma preposicional), como tais completivas e tais sintagmas preposicionais «não podem ser retomados anaforicamente pelo clítico demonstrativo invariável o [...], não têm a relação gramatical de objeto/complemento direto». Repare-se na agramaticalidade da substituição pelo pronome o: *«O João gosta-o» [ex.: «O João gosta que a Maria toque flauta; O João gosta de tocar flauta; O João gosta da Maria»].
1Classificação de Inês Duarte no capítulo sobre «Subordinação completiva – as orações completivas» (in Gramática da Língua Portuguesa (ob. cit., pp. 609 e 636).