O constituinte «o mar universal e a saudade» é sujeito (composto) da frase «Restam-nos o mar universal e a saudade» do poema Prece, de Mensagem (Fernando Pessoa).
A dificuldade coloca-se, decerto, devido ao facto de o constituinte se encontrar em posição pós-verbal, contrariando a ordem frásica habitual da língua portuguesa, pois, geralmente, o sujeito ocorre na primeira posição argumental da frase, em situação pré-verbal. Mas repare-se que é essa a expressão que desencadeia a concordância verbal (isto é, é o sujeito gramatical), pois o verbo/predicado está na 3.ª pessoa do plural, tal como dita a regra de concordância com o sujeito composto.
Para que não haja dúvidas, importa recorrer-se aos testes de identificação do sujeito, propostos por Inês Duarte, no cap. 10 da Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003, pp. 283-284), de Mira Mateus et al.:
a) O constituinte com a relação gramatical de sujeito pode ser substituído pela forma nominativa do pronome pessoal, se for de natureza nominal, ou por uma forma tónica neutra do pronome demonstrativo:
Nota: O verbo restar, tal como «os [outros] verbos que denotam ausência ou carência (como escassear, faltar), é verbo inacusativo [considerado intransitivo na tradição gramatical luso-brasileira, verbo de um lugar que seleciona um argumento interno que ocorre com a relação gramatical de sujeito] que admite nomes simples como sujeitos pós-verbais (idem, pp. 546-547). Segundo o Dicionário Gramatical dos Verbos, de Francisco da Silva Borba, 1991, o verbo restar é um «verbo com sujeito inativo expresso por nome abstrato [ou oração infinitiva] e com complemento, destinatário, apagável, da forma a nome humano, significando "subsistir como alternativa única": Só me restava pagar a conta». Por sua vez, Celso Luft, no seu Dicionário Prático de Regência Verbal (2003), indica-nos, também, que «o verbo restar, com o sentido de "ficar, existir ou subsistir como resto", é intransitivo. Ex.: É tudo o que lhe resta. Restam-lhe cem cruzados».